
A Ida (Sem Volta) do boêmio

* Por Ferrer Freitas
Por esses dias morreu no interior de Goiás, em uma cidadezinha de nome Senador Canedo, situada entre Goiânia e Brasília, onde residia há vários anos, o oeirense Geraldo Nogueira, de 78 anos. O sobrenome ilustre é do pai, Sebastião, o velho Bastim, filho do Sr. Antônio Francisco Nogueira, mais conhecido por Antônio Tapety, e irmão, entre outros, de Benedicto Francisco, o extraordinário bardo Nogueira Tapety A mãe chamava-se Leomiza, que morava com este único filho em casinha situada na margem esquerda do riacho “Pouca Vergonha”, bem próxima da barranca, de relativa altura, onde o leito é um lajedo só. Leito é força de expressão, pois ali, de há muito, não há corrente, a não ser nas enxurradas de pesadas chuvas a partir das grotas. A casa continua no mesmo lugar, hoje Praça 24 de Janeiro, resistindo, embora Leomiza tenha se ido há muitos e muitos anos.
De vocação irresistível para a boemia, Geraldo era um moreno bem aparentado, de média estatura, mais para baixa , que gostava de vestir-se bem. Nisso aproveitava-se da exímia passadora de roupa que era a mãe. Como ficava prosa numa calça de linho branco! Integrava o regional formado por Levi (piston), Chico Baião (saxofone), Pedro de Ernesto (tuba), Osiris (trombone de vara), Zé da Guia filho (bateria) e Antônio Dentim (banjo). Seu negócio era a percussão e a fazia com um instrumento que hoje se chama afoxé, mas que, à época, não passava de cabaça com contas lembrando um rosário. Também cantava, com voz afinada. Notívago empedernido, estava sempre presente nas serenatas e gostava de cantar um velho bolero de título “Cantor de Rua”, de versos iniciais assim: “Sim, esta canção é sua,/é um hino apaixonado/de um cantor de rua...”. Acho que de Levi e Queiroz Neto. De tanto repeti-lo, ficou até conhecido pelo seu nome.
Aí, acredito que ainda nos anos de 1960, arribou, escafedeu-se, ganhou o mundo, na busca de afazeres. Naquele tempo Oeiras não oferecia oportunidade nenhuma de trabalho. Por esse tempo, ou pouco antes, também se foram Osiris, Benedito e Newton , os três, filhos de Cícero Cego, e Levi, todos músicos virtuosos. O Newton, de apelido Gueré, parece-me que ainda vive e, segundo soube, reside em Campina Grande. Tocava clarinete como ninguém! De todos, incluindo Geraldo, o único que ainda fez algumas visitas a Oeiras, duas ou três, foi Levi. Os outros, nunca voltaram pra matar saudades de um tempo feliz que passou. A notícia da morte de Geraldo Nogueira chegou-me por e-mail do meu primo Naziazeno, que reside em Goiânia. Há uns três anos visitou-o e trouxe-me algumas tomadas contidas em DVD. Surpreendeu-me que ainda estivesse muito bem, embora sem aquele tão bem cuidado penteado, pela calvície acentuada. Mando aqui à sua Luzia e filhos o meu abraço de profundo pesar, em especial à Geraluzia pela idéia poética do nome.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras