A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vídeos de vítimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
* Por Rogério Newton
Por ocasião da morte do Prof. Luiz Gonzaga Carneiro, ocorrida dia 31 de janeiro, Ferrer Freitas escreveu comovente texto em um dos portais da cidade, enaltecendo as qualidades do falecido. Também me associo ao cronista: o Prof. Luiz Gonzaga Carneiro era excelente pessoa humana e tinha muito amor por Oeiras.
Ingressou no curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, em 1964, ano do Golpe Militar, após o qual as liberdades democráticas foram suprimidas, só vindo a ser restabelecidas com a Constituição de 1988. Depois de concluir o curso superior, foi uma voz esclarecida a respeito de questões ambientais, especialmente relacionadas ao Riacho Mocha. Era início da década de 1970. O discurso ambientalista dava seus primeiros passos. O professor trazia uma bagagem de conhecimentos apreendida no meio universitário, mas também o anseio de participação política (no caso, suprapartidária), certamente influenciado pelo aprendizado dos tempos de estudante, numa época em que a repressão política tinha a universidade como um dos seus alvos.
Sobre o Riacho Mocha, o Prof. Luiz Gonzaga Carneiro tinha propostas óbvias: conservação das matas ciliares, saneamento e um mínimo de planejamento da ocupação das áreas verdes próximas ao riacho e seus afluentes. Apresentou sugestões aos gestores da época, mas logo se desencantou ante a ausência de qualquer possibilidade de enfrentamento da questão pelo poder público, numa época em que os problemas ambientais oeirenses estavam no início, sendo, portanto, mais fáceis de serem contornados.
Mesmo cedendo ao realismo, o Prof. Luiz Gonzaga Carneiro não fugiu da raia nem perdeu o vigor de suas convicções. Ele sabia que os anseios pela conservação do Riacho Mocha atendiam ao seu altruísmo, ao bom senso e aos conhecimentos científicos sobre o tema, que ele dominava bem. Por isso, nunca deixou de opinar e, algumas vezes, de polemizar, como ocorreu por ocasião do fiasco que foi o último projeto de intervenção no riacho, em 2000.
Conscientemente ou não, a sociedade e o poder público escolheram caminho diametralmente oposto ao indicado pelo Prof. Luiz Gonzaga Carneiro. Deu no que deu.
(*) Rogério Newton é escritor e poeta.