A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vÃdeos de vÃtimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
(*) Ferrer Freitas
"Rede social não é lugar para desnudar a alma. Publique ideias, mas guarde o coração para quem está perto o suficiente para olhar em seus olhos. Quem joga sua alma no ventilador da Internet corre o risco de nunca mais juntar seus pedaços. Preserve-se. Intimidade não é para 'amigo de Facebook'. É para amigos de Face a Face." O que aqui está dito extraí de texto de Vanessa Bentes Moreira, de quem não consegui maiores informações, mesmo procurando pra valer. A não ser que é psicóloga.
Pedindo vênia aos amigos que discordarem, devo dizer que não pode existir coisa mais monótona do que o assédio de incautos nas redes sociais. Tenho pra mim que os aficionados dessa nova febre não pensam ou não têm o que fazer. Daí ficarem o tempo todo nessa coisa chamada “WhatsApp” , para citar a mais tediosa. Sem querer ferir suscetibilidades, acredito que isso ocorra com quem pouco lê, não vê um bom filme ou não troca ideias com parceiros antenados. Preferem permanecer horas a fio passando o dedo no que outrora (não faz muito tempo), era apenas celular. Em outras palavras, telefone móvel. Devo ressaltar que Isso me faz lembrar samba antológico de título “Sei lá Mangueira”, do genial Paulinho da Viola. Dois versos resumem bem o que ora abordo: “... a vida não é só isso que se vê./É um pouco mais!”
Mesmo já tendo tratado neste espaço do assunto, justo por ter tomado certa vez um táxi em que o motorista dirigia e, de vez em quando baixava a cabeça para ver entre os joelhos o “WhatsApp”, volto ao tema, embora muita gente amiga não concorde comigo. É impressionante constatar-se em restaurantes pessoas da mesma família sentadas em derredor de uma mesa sem conversarem, cada qual com seu celular à mão. Muitas entram mudas e saem caladas. Dia desses vi em determinado canal de TV reportagem abordando o assunto. Alguém de estado do sul do Brasil adentra um restaurante e pede que lhe seja servida uma xícara de café com leite bem quente, já que lá fora a temperatura era de pouco mais de cinco graus. Só que o cidadão, por estar absorto com o celular, esqueceu da xícara posta sobre a mesa, fumaçando, diga-se. Como não poderia deixar de acontecer, o café com leite esfriou totalmente. Não lembro agora em que cidade isso ocorreu. Sei somente que não é fácil para nós aqui da linha do equador experimentar temperaturas baixíssimas. Comigo ocorreu (quase morro de frio) na agradabilíssima Chácara Santista do meu estimado conterrâneo Antônio Madeira, o boa-praça Madeira, um dos seres humanos mais generosos que conheço. A chácara fica situada em São José dos Pinhais, município da grande Curitiba e, na ocasião, fazia sete graus.
Voltando à psicóloga Vanessa Bentes Moreira, devo dizer, finalmente, que tudo aqui posto talvez fique por conta de atraso meu. Ou será porque eu gosto do papo com amigos olhando nos olhos, em que pese só dispor de um?
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras