
A loucura diverte a vida monótona dos becos sombrios

*Por Stefano Ferreira
Para Coló
Entre um sorriso e outro, calava-se mirando a rua vazia. Após o último gole de vinho, vermelho como seus olhos de sono, saiu disfarçadamente do bar já seco e pegou o beco que dava no velho cabaré da rua estreita próxima ao riacho.
Ficou ali observando as mulheres velhas já gordas, cansadas da vida.
Deu alguns passos lentos e entrou no ambiente de luminosidade encarnada, sentando-se em uma das mesas. Pediu o pior conhaque, tossiu ao bebê-lo.
Não foi apreciada pelos homens que jogavam bilhar. Levantou e foi ao banheiro levantando a saia. Mesmo assim foi ignorada.
Levantou sem pagar a conta e seguiu pelo beco até a praça próxima ao sobrado embrejado pelo último inverno. Ali, sentou-se no banco e arrancando uma flor no canteiro cruzou as pernas. O dia já dava sinais que estava acordando. Dormiu como uma rapariga de ponta de rua. Sonhou estudando em um convento.
Com o sol em seu rosto, surpresa, levantou-se, retirou a flor carmim do cabelo e se ajeitando correu por entre os casarões velhos já com idosos sentados mirando a vida silenciosa e triste de um domingo.
Já não sabia onde morava, onde se escondia, aonde iria. Surtou ali mesmo próximo à catedral.
Hoje canta hinos de louvor durante o dia, boleros à noite e corre atrás das crianças que alegram o largo entristecido pela monotonia da cidadela.
*Stefano Ferreira é professor e jornalista