A mulher que não me amou

*Por Cláucio Gonçalves

A moça foi embora, e eu me ponho a pensar se não é melhor não voltar. Ela tem os defeitos que mais abomino: invejosa, egoísta, autoritária. Poucas vezes compreensiva. Falsa. Dissimulada. Perversa. Não vou me fiar numa mulher que não me deixa dormir um instante sequer a madrugada inteira e ainda tenta me fazer de bobo, simulando gozo, emitindo grunhidos, jorrando gemidos, gritando ais e uis, falando bobagens, dizendo coisas sem nexo, sem sentido, ininteligíveis, proferindo palavrões e me torturando com sua boca faminta, com suas unhas cruéis, com sua pele macia roçando a minha desacostumada com carinhos tais, com seus olhos cegando os meus, com suas palavras calando as minhas, com sua vontade de morrer assim suplantando a minha, com suas súplicas a Deus, pedindo a Deus, pelo amor de Deus, que eu seja só dela e que nem mais uma mulher me enxergue além dela, que nem outros olhos , afora os dela, olhem pra mim como me olha ela. Não posso me fiar numa mulher que vai embora e não fica de voltar. Não posso me fiar numa mulher que sai, bate a porta e não olha para o caos que deixou para trás. Não posso me fiar numa mulher que diz que me ama, mas vai embora e não se importa com a solidão da minha cama, com os destroços da minha alma.