
Mais de 60 mil eleitores do Piauí podem ter título cancelado em maio; veja como regularizar
28/04/2025 - 08:43Em todo o país, mais de 5,1 milhão de pessoas ainda precisam regularizar o documento.
Ele é músico, poeta, acadêmico de Letras, foi idealizador e vocalista da banda Geração Perdida e segue carreira solo, sempre fazendo muito sucesso, encantando a todos com sua bela voz e bom gosto musical. No último festival de cultura, não foi convidado a participar. No entanto, fez participaçõesa mais que especiais nos shows de Vanúsia Marques e de Vavá Ribeiro, onde foi ovacionado pelo público. Confira a seguir uma entrevista com Vivaldo Simão.
Mural da Vila - Como a música surgiu na tua vida?
Vivaldo Simão - Outro dia descobri uma coisa interessante. Meu avô materno era músico amador, tocava rabeca ,de ouvido mesmo, e as crianças do interior ficava doidas quando ele passava tocando. Quem me contou essa história foi uma das crianças da época, que hoje é o músico Josué. Então suponho que ela entrou primeiro pelos genes. Durante minha infância toda meu contato com a música foi escasso. Meu pai, que é evangélico, era muito rígido e não permitia que a gente cantasse ou ouvisse música “profana” em casa, Mas lá pelos meus doze anos ele foi morar fora de casa por uns tempos e meu irmão comprou um aparelho de som. Lembro de ser acordado bem cedo com O tempo não pára, de Cazuza. No caso, fui acordado num sentido muito mais amplo! A partir dali o rock e a MPB passaram a ser uma necessidade quase que espiritual. Eu diria que a música é a minha religião.
Mural da Vila - Você é tido como um dos melhores cantores de Oeiras, como você avalia esse reconhecimento?
Vivaldo Simão - Depende do tipo de reconhecimento ao qual você se refere. Tem um bom numero de pessoas que gostam do que eu faço mas por outro lado não há um ambiente favorável, nem pra mim nem pra ninguém que trabalha com música aqui. Eu já acompanhei de perto o pessoal de Picos realizando grandes eventos. Senti a diferença do tratamento dado a eles por lá. As empresas dão patrocínios decentes, há um envolvimento maior dos órgãos responsáveis pela promoção de atividades culturais. Aqui a gente é muito limitado. O público, por si só, não pode fazer muita coisa. Eu toco por aqui a seis anos e tenho recebido mais apoio verbal do que qualquer coisa mais concreta. Só isso não basta.
Mural da Vila - Por conta desse reconhecimento, no último festival de cultura você foi ovacionado pela platéia. O que aquele momento representou para você?
Vivaldo Simão-Olha, qualquer artista oeirense sente o peso que é ficar de fora de um evento que tem a palavra “cultura de Oeiras” no titulo. A Vanúsia, quando soube que eu não havia sido convidado, chegou a propor que dividíssemos o tempo do show dela, mas eu não achei justo porque o tempo dado a ela no festival já era muito pouco. Mesmo assim combinamos dois duetos. Acabou saindo apenas um por conta do corte que fizeram no tempo de apresentação que ela teria. Foi muito surpreendente pra mim o convite do Vavá, alguns dias antes do festival. Eu acho que Vanúsia e Vavá, como artistas, por tudo que já passaram, conhecem bem esse peso de “estar de fora”. Foi fantástico. A reação das pessoas foi incrível. Eu acho que tudo isso representou uma baita interrogação lançada no ar: Por que não eu?
Mural da Vila-Depois de participar de algumas edições do Festival de Cultura de Oeiras, este ano, você não foi convidado. Qual a explicação para você ter ficado de fora?
Vivaldo Simão-Não sei. Gostaria muito de saber. Meu nome esteve na programação no inicio. Soube que estava divulgado no site da prefeitura, acessei, confirmei que estava e mandei um email à prefeitura sugerindo que, antes de divulgar nomes, eles entrassem em contato com a gente pra acertar detalhes como: cachê, data, duração do show. No dia seguinte meu nome já não estava mais na programação. Talvez meu email tenha sido mal interpretado.
Mural da Vila - Qual a avaliação que você faz dessa edição do Festival de Cultura de Oeiras?
Vivaldo Simão - Houve grandes acertos e erros. Zeca Baleiro, Xangai, Ensaio Vocal, Emerson Boy, Soraya, Vavá, o espaço climatizado foram os grandes acertos. Os problemas com os shows de Vanúsia e Luciana, a divisão de palco, a falta de dinâmica entre os palcos, os problemas com horários, a ausência das palestras relevantes e a divulgação escassa das oficinas (pouca gente soube) foram os ponto baixos. Mas certas coisas são compreensíveis por ser uma equipe nova. Haverão outros festivais, ainda há muito o que se ver, eu espero.
Mural da Vila - Nesses últimos dias, por conta do festival de cultura, muito foi falado sobre a valorização dos artistas locais. Há de fato essa valorização?
Vivaldo Simão - É aquilo que eu havia falado antes, há mais o verbo que o ato. Até houve umas tentativas de organização, como a Casa dos Músicos, mas a coisa não anda só com o esforço dos músicos e do público. Agora, em relação ao festival, falar em valorização de músicos locais é puro exercício de verborragia.
Mural da Vila - Você fez uma participação mais que especial no show de Vavá Ribeiro, que é considerado por muitos como o melhor cantor do Piauí. Qual a emoção em ter tido a oportunidade de cantar dois dos maiores sucessos de Vavá?
Vivaldo Simão - O Vavá, que eu considero um dos maiores cantores e compositores do país hoje, me disse no camarim, antes do show, que viu uma maturidade muito grande nas coisas que escrevo (poemas, músicas). Eu acho que esse tipo de comentário, a atitude de me convidar e a reação do público foi a parte mais emocionante da coisa. O ato de estar no palco com ele foi um complemento. Se eu não tivesse cantado, só o fato de ouvir as coisas que ouvi e receber o convite já teria valido. Ficou uma gratidão sem tamanho, por ele e pelo feedback do público.
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Mural da Vila - Quais as suas influencias musicais?
Vivaldo Simão - Eu gosto de música, sem barreiras temporais, geográficas ou estilísticas. Basta uma letra bonita, sincera, uma melodia bem feita... Mas influencia mesmo eu acho que vem quase toda do rock brasileiro e inglês dos anos 80 e da MPB da década de 70: Legião, Engenheiros, Cazuza, Caetano, Gil, Chico, Milton, Smiths, The Cure, Joy Division... Por aí dá pra ver a elasticidade do meu gosto musical.
Mural da Vila - Oeiras já teve diversas bandas de rock, mas nenhuma delas conseguiu de fato se estabelecer. Você esteve à frente da banda Geração Perdida, que além de você tinha excelentes instrumentistas. Por que as bandas de rock de Oeiras não conseguem ter vida longa?
Vivaldo Simão - Porque o rock ainda não é entendido da maneira certa pelas pessoas. A Geração acabou acima de tudo por falta de motivação. Éramos imaturos, levamos muitos canos, fomos roubados algumas vezes (em alguns casos em grandes quantias), éramos mal pagos, sofremos preconceitos, como as pessoas inventarem que usávamos drogas e pegávamos rachas de carro, sendo que ninguém dirigia, nenhum tinha carro, ninguém fumava e bebíamos num nível muito normal. Mas era isso: as pessoas associam rock a baderna, alienação, quando é justamente o contrario. Todo mundo lia muito, tinha o Adalvan e o Adaljerry, fascinados por filosofia, eu por literatura, o Alisson, que hoje ta cursando medicina. Eu até dizia que a Geração era o melhor pré-vestibular do mundo: todos os integrantes que tocaram na banda passaram entre os dez primeiros colocados nos vestibulares. Enfim: as bandas de rock por aqui não duram porque não são pagas justamente e nem são respeitadas, essa é a verdade!
Mural da Vila - A nível de Piauí, quais os cantores e bandas que você admira?
Vivaldo Simão - O Piauí tem hoje dois dos melhores artistas do país. Na MPB, o Vavá. No Rock, a Validuaté, que pra mim é a melhor banda de rock do país no momento. No mais gosto muito da Gramophone, da Soraya, do Teófilo, do Roraima...
Mural da Vila - Qual a avaliação que você faz dos cantores de Oeiras? Que artistas locais você admira?
Vivaldo Simão- Não é toda cidade que tem cantores do naipe de Vanúsia, Kariny, Luciana. Eu gosto de todo mundo, até porque a admiração transcende a questão profissional, há todo um envolvimento pessoal também. E têm o pessoal que é injustamente esquecido, os músicos: o Hytalo, pra mim o melhor violonista que temos em Oeiras hoje, os rapazes do Eduardo e banda, que, aliás, estão compondo comigo num projeto chamado Plano Z, Felipe, Pablo, Barroso... Meus grandes amigos Kauã, Carlos Vinil, Adaljerry e Adalvan, que tocaram na GP comigo, enfim.
Mural da Vila - Temos em Oeiras uma galera de músicos bem nova e muito boa que está surgindo. Falo de Pablo, Barroso, Felipe, Amadeus, que vêm tocando com os cantores locais. Que avaliação você faz dessa, digamos, “renovação”?
Vivaldo Simão - Eles são ótimos. Espero que não passem pelo que passamos com a Geração Perdida. A gente levou tanta porrada na cabeça que o Adalvan, um cara talentosíssimo, desistiu da música. Espero que essa turma tenha mais espaço e seja mais valorizada. Assim dentro de alguns anos teremos um staff de músicos em um nível altíssimo.
Mural da Vila - Além de músico você é poeta, e muito elogiado por intelectuais do Piauí, já tendo recebido algumas homenagens e gravado para alguns programas de TV. Há um projeto de lançar um livro?
Vivaldo Simão - Eu quero muito. Temos o plano de lançar O Baião de Três, uma coletânea de poemas publicados no nosso blog (www.obaiaodetres.blogspot.com). Tenho uns projetos meio doidos também, todos coletivo, com o Edilberto Vilanova e o Rogério Freitas, como por exemplo, um romance em versos chamado “O menino que queria ser pássaro”
Mural da Vila - Quem é o Vivaldo cantor, o Vivaldo poeta e o Vivaldo pessoa?
Vivaldo Simão - Não tem muita diferença entre os três. Um é conseqüência do outro. A diferença é só a forma que cada um se manifesta: uma pelo canto, um pelo verso, um pelo ato.
Mural da Vila - Oeiras. O que a cidade representa para você, para o teu trabalho?
Vivaldo Simão - Tudo!Leio O.G. Rego dizendo que Oeiras fez dele um escritor e sinto, que do mesmo modo, Oeiras me fez o que eu sou, pelo bem e pelo mal. Tudo que eu escrevo e canto vem da leitura do mundo que Oeiras plantou dentro de mim, e do mundo que Oeiras me revela, externamente.
Mural da Vila - Deixe sua mensagem aos leitores do Mural da Vila.
Vivaldo Simão - Um abraço a todos aqueles que gostam de mim. Espero que continuem me acompanhando pela vida afora até quando não houver mais caminho.