Mergulho em Guajará













POR
ROGÉRIO NEWTON
Ontem cumpri minha própria agenda paralela.
Fui com Cidinha para Mosqueiro, uma das 42 ilhas, a 55 Km de Belém. Foi
necessário esse respiro em um dos inúmeros lugares bonitos que o município
possui. Eu estava com vontade, mais do que vontade, necessidade, de banhar em
um rio e me vi na praia de água doce do Farol.
A praia do Farol é só um exemplo do que a Amazônia é capaz. Não há palavras para descrever o Rio Guamá, na Baia Guajará, que mais parece o mar. E o rio ali, depois de entrar na baía, vai se misturando com o oceano, mas a água é ainda doce, só um pouco salobra. Do outro lado, a muito maior Baía de Marajó, mas aí é outra história que não sei contar.
Quantas águas tem essa Amazônia desconhecida para mim. E quantas florestas que vou intuindo ao ver árvores de espécies e alturas várias, mas quase sempre muito altas, de um lado e outro da rodovia estadual, no meio da qual há uma ponte ligando Mosqueiro ao continente.
Lá para dentro da mata, entre aquelas ilhas e dentro delas, fora também da parte insular, quantas pessoas humanas e não-humanas morando e vivendo desde tempos imemoriais, não só os povos das florestas, mas os povos d’agora? Quantas vidas e quantas riquezas independentes de dinheiro? Quem sabe melhor sobre isso, por experiência própria, não por ter lido em livros, são os e as indígenas. Estou encontrando muitos durante a COP. Também não sei descrevê-los, nem quero.
Foi difícil deixar Mosqueiro e voltar à Belém e à agitação da Conferência, que pretendo retomar amanhã. Direi para vocês nos próximos dias, como venho fazendo, essas impressões enviesadas sobre o que estou vendo, sentindo e procurando compreender.
Ontem, segunda-feira comum, foi um dia em que não quis compreender nada. Afinal, eu estava diante da Baía Guajará. A única coisa que eu poderia fazer – e fiz – foi mergulhar.