
Ainda sobre a jovem morta

* Por Jota Jota Sousa
Diz uma piada, que as polícias americana, britânica e a brasileira passaram por uma prova, cujo objetivo era testar a eficiência de cada uma delas. Para isto, foi solto em uma densa floresta, um ágil e astuto coelhinho. Receberia o troféu de melhor qualificação aquela que capturasse o animalzinho em menor espaço de tempo. Pela ordem, a primeira a embrenhar-se no matagal foi a policia dos Estados Unidos. Passaram-se então, cinco minutos, oito e em exatos 10 minutos, os gringos apareceram com o coelhinho totalmente dominado. Chegou a vez dos soldados ingleses. Soltaram o coelhinho na floresta, se passaram cinco minutos, dez minutos e cravados 11 minutos os britânicos apareceram e apresentaram à comissão julgadora o coelhinho. Chegou a vez da polícia brasileira, esta representada por uma distante unidade da federação. Passaram cinco minutos, dez minutos, onze, quinze, vinte, meia hora, meio dia e nada da polícia aparecer com o coelhinho. Findava já o dia, todos já cansados da espera, eis que aparece a polícia nacional. Não trazia o coelhinho, mas um baita porco, sangrando, cheios de hematomas a urrar: “Eu juro que sou um coelho, eu sou um coelho... um coelhinho fujão”.
Recentemente, a polícia piauiense se viu dentro de uma triste e comovente seara. Essa brava polícia que relevantes serviços têm prestado a essa gente, se viu dentro de um emaranhado desolador e até vergonhoso por tudo o que ali se viu e ouviu. O objetivo era o de encontrar e prender o(s) assassino(s) da jovem Fernanda. Desde o triste dia em que encontraram o corpo desta, se passaram dias, semanas, meses sem resultado algum. Quando o desalento já tomava conta de todos, eis que aparece a policia, desgastada, já sem o respaldo de uma população atônita, o olhar cansado (traduzido no olhar de Paulo Nogueiras naquele dia) dizendo que não havia encontrado coelho algum, ou melhor, não tinha chegado ao desfecho no caso da jovem morta. “Ahhhhhhh!” Suspirou em uníssono todo o estado do Piaui. Cada cidadão, de norte a sul, se transformou numa espécie de rábula a cuspir opiniões e certezas. Em cada olhar, a triste demonstração de que se aceitaria qualquer coisa (como em tempos outros), menos essa. Aceitaríamos, quem sabe até um porco malhado de pancadas, confessando ser um coelhinho fujão. Formou-se a mais triste e vexatória das torcidas, onde jornalistas medíocres (salvo honrosas exceções) pareciam disputar a chefia desta funesta gama de torcedores. “Eu torço para que o assassino seja fulano de tal”; “Eu acho que vai dar em sicrano de tal”. “Ah! se fosse Beltrano!”. Eufóricos, desconhecendo o poder do escrito no jornal, a força da TV, o lado cruel da internet, o imediatismo do rádio, tentavam a todo custo fazer o promotor cuspir nomes. Porém, este, sabedor das tentações do “inimigo avermelhado” reiterava apenas: “a, e, i, o.... que matou a jovem foi... ? Chegamos ao ponto de dormir com a certeza de que no dia seguinte acordaríamos com o nome e a prisão do algoz da jovem morta. Todos atentos a tudo, menos para a possibilidade de um ato de grandeza e de hombridade que imperceptivelmente brincava à nossa frente. A coragem da polícia, ao confessar que não encontrara coelho algum, foi sim, um ato de extrema coragem pelo que se vivia no momento. E não apresentar a esta sociedade, porquinho inocente a confessar sob pancadas ser coelhinho fujão é algo a ser profundamente analisado em todos os seus aspectos.
Mas é fato que, ainda nos encontramos na estaca zero. O coelho ainda está na mata e é preciso capturá-lo para o bem de todos e para que possamos sonhar com o dia em que o restante da nação sorria a gente, e não da gente.
À Fernanda, à sua mãe que vive a dilacerante dor de um revés do parto, ao pai, que na luta desigual contra sua triste realidade espalha pela casa as fotografias da filha a sorrir, “É assim que quero me lembrar dela”, aos demais familiares e amigos, minhas sinceras desculpas por abordar este paroxismo usando a estorinha acima. Mas foi o que veio à cabeça deste humilde escritor para expor também sua indignação e opinião sobre mais este nosso triste e lamentável momento.
Na densa e engenhosa floresta Piauhy, é a vez da Polícia Federal.
*Jota Jota Sousa é escritor oeirense