Areia, açúcar, mas nem tanto
Ao chegar ontem, dia inaugural da COP 30, e ver tantos espaços de instituições oficiais e de algumas empresas, tive a sensação de estar em um megaevento "chapa branca". A maioria dessas instituições já ocupam seus espaços nas suas atividades ordinárias do dia a dia e dispõem de assessorias e estratégias para aparecerem nas mídias. Melhor seria se espaços da COP 30 fossem utilizados por entidades civis. Claro que não negamos a importância das instituições e órgãos públicos, mas em um evento como numa ocasião como esss, a sociedade civil deveria ter um peso maior. Não estou dizendo que a sociedade civil não tem seus lugares na COP 30. Tem. Mas a "chapa branca" prevalece nos stands impecáveis.
Malgrado isso, pude ver, por exemplo, o Círculo dos Povos e ali participar de uma excelente mesa com mulheres quilombolas, como também de outra com nativos da Colômbia, falando sobre a sabedoria dos povos tradicionais que sentem a Terra como Mãe. Esses indígenas, hoje com bastante contatos com o mundo dito civilizado, querem ser ouvidos pelos que aparentemente conduzem o planeta para o abismo.
Da mesma forma, mulheres e homens de terceiros, apertados no espaço do Ministério Público Federal, também enfatizaram a necessidade de escuta por parte da sociedade que não os veem como pessoas dotadas de saberes.
Na tarde desta segunda feira, a Zona Livre da COP 30 recebeu dezenas de indígenas do povo Xikrin, que falaram, venderam artesanato, pintaram muitos que pagaram 40 reais e depois saíram em cortejo, dançando e cantando. Foi bonito e vibrante.
Uma mãe de santo, com quem conversei, me disse que há muitas contradições na COP 30. Por exemplo: a abertura de uma via pavimentada na cidade implicou na saída de oito terreiros, que tiveram que procurar outros lugares para se reestabelecerem. Por outro lado, segundo ela, houve investimentos maciços nas Docas, e o mesmo não aconteceu em bairros pobres.
A COP 30 é também uma vitrine. Por isso, há políticos que por lá transitam e transformam suas aparições em espetáculos, como ocorreu com o Governador do Pará nesta segunda-feira.
Pode-se aprender muito, mas a COP 30 não é um evento para amadores, nem para todas as classes sociais. Como diria Yogananda, ao encontrar açúcar misturado com areia, as formigas escolhem o açúcar. É assim a COP 30: areia e açúcar. Mas muitas vezes o sabor é amargo.