
Ativismo polÃtico suprapartidário
Durante a última campanha eleitoral, vi em Oeiras carreatas gigantescas das facções político-familiares-partidárias dominantes. Multidões barulhentas proclamaram os nomes de seus candidatos a cargos eletivos. Passadas as eleições, essas mesmas multidões silenciaram, como se a participação política se restringisse apenas ao aspecto eleitoral.
Mas não. É um embuste que ideólogos interesseiros tentam nos impingir, e, muitas vezes, conseguem. Eles estão usando, via mídia, essa mesma estratégia agora, por causa das manifestações em todo o País. Estão sempre a querer reduzir a democracia, exclusivamente, ao aspecto eleitoral.
A prova dos nove da participação política autêntica é a que se dá no cotidiano, através da vigilância constante, da cobrança de atitudes coerentes dos cidadãos, gestores, agentes públicos e parlamentares para implementação de políticas públicas de bem estar coletivo. É a participação política baseada na solidariedade e no fato incontestável e esquecido de que pertencemos à mesma família humana. E de que somos responsáveis diretos por tudo que acontece na sociedade, de bom e de ruim.
Essa participação política cotidiana, que nos faz coparticipativos e corresponsáveis,é exercida pela sociedade organizada. Organizada em que? Como? Através dos movimentos sociais consequentes, de organizações coletivas, como as associações civis que defendem os direitos humanos e sociais, o meio ambiente saudável, os valores culturais, a arte, os direitos dos que não tem vez nem voz etc.
O que se vê em Oeiras, entretanto, é uma ênfase exagerada à participação política exclusivamente partidária e delimitada apenas aos chamados “períodos eleitorais”. De propósito, os grupos políticos-familiares-partidários oeirenses, que sempre se beneficiaram das estruturas de poder, mantém essa farsa ideológica, a fim de continuarem a exploração e a manutenção do “status quo”. Além disso, promovem a divisão na sociedade, criando polaridades tacanhas, do tipo tupamaros x boca pretas (até os nomes são ridículos), que só enfraquecem a sociedade, propiciando a estagnação e a falta de rumos.
Esses grupos políticos-familiares-partidários silenciam, desprezam, desqualificam todas as iniciativas autênticas de participação política independente. Não aceitam a crítica racionalmente fundamentada e construtiva. Esforçam-se em desviar as questões essenciais para questiúnculas paroquiais. Promovem e incentivam a mais reles política interesseira, narcisística e idólatra. Tudo isso para manterem a sociedade na estagnação, perpetuando a exploração e os privilégios.
Bem ou mal, o que a sociedade civil em Oeiras conseguiu organizar, de forma razoavelmente crítica, independente e construtiva, foram os movimentos cultural e ecológico. Entidades civis foram criadas e, pelo esforço delas e de pessoas sinceras e atuantes, construiu-se uma resistência ainda hoje viva e atuante. Não tenho dúvidas que essa resistência coletiva leva a sociedade adiante. Ela só falta ser mais nutrida pela participação de maior número de pessoas sequiosas de mudanças, mas não sabem exatamente como. Trata-se de um processo. Não é um acontecimento isolado ou um messias político que vai proporcionar as mudanças necessárias de mentalidade e atitudes. Mas para isso é necessário que percamos o medo de ficarmos unidos, solidários e determinados.
A atual participação política nas ruas, que faz questão de ser suprapartidária, é um acontecimento auspicioso. Ela é necessária, porém insuficiente. É preciso que os cidadãos se organizem a fim de mobilizarem a energia coletiva para as mudanças acontecerem. A maneira mais adequada que vislumbro é o ativismo político e social suprapartidário. Defendo que todo cidadão não deve reclamar isoladamente, nem ser um espectador inerte, mas um agente ativo de organização e de mudanças para bem estar coletivo.
Não basta protestar, nem se queixar que a política em Oeiras e no Brasil tem sido causa de muitos males individuais e sociais. É preciso esforçar-se ao máximo para sair deste estado nocivo de realidade. Isso não se consegue apenas com palavras de ordem, faixas e caras pintadas. Nem somente com o voto. A maneira mais adequada é sair da acomodação e do conformismo para o engajamento político, social e cultural, através da criação ou agregação às entidades ou núcleos existentes, que já fazem a defesa, atuante e desinteressada, do bem estar coletivo.
Em Oeiras, existe já um numero significativo de entidades civis, de líderes autênticos, na vida social, na vida política suprapartidária e na vida cultural e artística. Mas eles estão muito sozinhos. Cotidiana e permanentemente, é preciso que os manifestantes se unam a estas lideranças autênticas, e não alimentem ou dêem apoio às lideranças despreparadas e antiéticas, que só trazem malefícios e atraso para a sociedade.
Estamos vivenciando no Brasil um momento muito importante, no qual está sendo gerada a energia insurreicional indispensável para as mudanças. Essa energia não pode ser desperdiçada. Responsavelmente, temos de canalizá-la para atitudes concretas, diárias, de recusa aos velhos padrões políticos, ante os quais não devemos mais ter complacência. Essa energia seminal não pode ser gerada no âmbito dos partidos políticos, mas do fundo dos corações e das mentes que desejam ardentemente que todos sejamos felizes.