
Auxílio-paletó: pra que gravata no Magalhães e no Robert Rios, se nem pescoço eles têm?

O Retorno
Minhas amadas leitoras e queridos leitores! Este vosso criado tem levado uma vida de deputado! A última coluna que escrevi foi em outubro do ano passado. Fiquei este tempo todo esperando ouvir o apelo: “volta, volta!”. Pra falar a verdade, ninguém deu nem fé da minha ausência. Então, mesmo sabendo que oferecido não tem preço, aqui estou eu novamente com as zurêa murchas e o rabim entre as pernas.
O Casimiro de Abreu, escreveu sobre infância. No poema “Meus Oito Anos” disse: “Oh! que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais!”. Quem sou eu pra inticar com quem tem saudades da sua infância? Mas dos meus tempos de cambirote, não guardo saudades, não! No máximo uma lembrancinha aqui outra acolá. Não que eu tenha ficado traumatizado com nada. Mas eu era blefado demais! Liso todo!
Não tinha dinheiro nem pra ir, nem pra voltar e muito pior pra ficar! E tudo só piora quando se sabe que menino tudo que vê, quer. Só de me lembrar a tristeza que eu sentia olhando aqueles carrinhos da Kibon passando na porta da minha casa impinhados de picolé e eu ali parado, só admirando, feito cachorro capado, que olha mas não come, já encho de lágrimas estes olhinhos que a mamãe me deu.
Quando me entendi por gente, cuidei em fazer esta: Dextá! Quando eu crescer, liseira só nos meus cabelos. Aperto, só se for de mão. E crise só se for de garganta.
A macacada
Mas algumas passagens desta fase “eliseu” ajudaram a construir este adulto problemático que sou hoje. Outras, ainda hoje me servem de baliza para ajustar o calibre da minha conduta. Vou contar só uma.
As minhas férias de fim de ano eu sempre passava na casa do meu avô paterno, Vovô Manel, lá no hoje município de São Miguel da Baixa Grande. Meu avô era, já naquela época, o que a TV de hoje chama de Super Nany, aquela criatura que regula menino traquino. Amansador de burro brabo, não tinha apego ao descanso e tinha paixão por trabalho. De dia, no inverno, passava na roça, plantando, limpando ou colhendo. À noite, ou amolando um machado, um facão, debulhando um milho, um feijão, batendo um arroz, fazendo um côfo... tudo... menos dormir.
Como as férias coincidiam com o inverno, ele sempre nos obrigava a ir pra roça com ele. Mas é verdade que lá eu passava o dia mesmo era dando de mamar à enxada, com o cabo dela agarrado nos meus peito, debaixo de alguma sombra. Capinar que é bom, só quando meu avô tava perto de mim. O que eu tentava evitar a todo custo.
Num certo dia, lá estava eu fazendo de conta que limpava uma maçaroca perto de um pé de pitomba. Quando arribei a vista, reparei que lá no alto uns macacos enchiam o bucho com a fruta. Mas descobri que a macacada come pitomba de um jeito diferente: descascavam a pitomba e, antes de comer o caroço, metiam ele na bunda pra ver se passava. Os que entravam, eles botavam pra fora feito quem obra e papocavam na boca. Os que não davam na bitola, eles rebolavam nos outros macacos. Esta lição me serviu demais! Vou bem ali assim e volto já, já.
O Teste do caroço
Vi esta semana em um jornal, que somente neste ano de 2011, mais de 350 motos já foram apreendidas com documentacão irregular. Aaaah, e foi? Pensei! Pois tá bom! Mas deixa eu dizer uma coisa pra vocês!: uma motocicleta de 50cc, a mais barata do mercado, custa R$ 3.380,00.
No mês de Janeiro de 2011, para emplacar a dita motinha, o Detran/PI cobrava R$ 535,00, ou seja 15,83% do valor do bem. Veja a disparidade nesta porcentagem do valor do emplacamento em relação ao valor da moto! É como se um petista comprasse um Hilux por R$ 100 mil e gastasse R$ 15.830,00 para emplacar. E este não é o valor do emplacamento da PreTendida (Hilux)! Por que no transporte do pobre não se guarda a mesma equivalência do transporte do rico?
Bom, mas se levarmos em conta que o cidadão precisasse financiar a motinha, ele teria que desembolsar mais R$ 170,00 para pagar a famigerada taxa Siraf, criada pelo petista Jesus Rodrigues, que foi suspensa por uns dias. Aí lá se iam mais 5,03% do valor do bem. Somando-se, então, o emplacamento e a taxa Siraf, gastava-se R$ 705,00, ou seja, 20,86% do valor inicial da moto para legalizá-la.
Será que o governo não deveria, antes de apreender o transporte do trabalhador, colocar o caroço da pitomba na própria bunda pra ver se passa, em vez de empurrar a pitomba da bunda dos outros?
Auxílio-Paletó
Na vida, o que é que não pode? Que eu saiba, o que não pode é uma traíra mamar num bode! Primeiro, porque traíra não mama. Depois, bode não tem peito. Bode não entra na água. E nem traíra sai. De resto, tudo pode! Pode assim... mei sem poder! Podendo!
Estes dias tomou a imprensa o tal do “auxílio paletó” para os vereadores de Teresina. Cada um recebe, desde 2009, aproximadamente R$ 9 mil por ano pra se vestir. Lá na Assembléia também tem. Lá na Câmara dos Deputados também tem e no Senado, também. A coisa é tão boa, e extensiva a assessores na maioria destas casas, que, só pra se ter uma idéia, de janeiro de 2007 a junho de 2009, só de auxílio paletó incorporados aos salários, o Senado gastou R$ 291,7 milhões. Ôoooo lapada!
Eu não sei se tá errado pagar o auxílio paletó, ou se tá errado exigir o tal do paletó. Se as Casas são do Povo – e é assim que são tratadas as casas legislativas – é só olhar nas ruas e perceber que não é assim que o povo se veste! Talvez, talvez não, com certeza, tá errado o auxílio paletó. E também a exigência do paletó.
Jumento, quando cisma com uma coisa, liga logo as antenas. E foi o que eu fiz: como é que chegam a um valor único de “auxílio paletó” se cada sujeito é diferente do outro, no modelo e na qualidade? Por exemplo: pra que enrolar uma gravata no Cícero Magalhães e no Roberth Rios, se nem pescoço eles têm? Pra vestir um Inação daqueles ou um Mauro Tapety não hai terno no mundo que abarque! O que anda mais perto de cobrir tanto um quanto outro é a empanada de um circo. Já pra vestir um Odalizim daqueles, não precisa ir em loja de vender roupa de homem. É só levar ele num Armarinho da Criança ou numa Xixi Baby da vida, que tem roupa à vontade que dá certim nele. Por outra, um cabôco magro que nem o Pompílio Evaristo, que é feito caranguejo, com as carne por dentro dos osso, tem que ter muito cuidado pra se vestir. Usando um terno branco e uma gravata vermelha, o perigo é confundirem ele com um termômetro.
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