
Carta aberta a tia Amália

Caríssima tia Amália:
Só não sei precisar o dia, mas me lembro como se fosse hoje: no mês de julho de 2011, eu e a senhora conversávamos e, quando perguntei-lhe a sua idade você me respondeu, enfaticamente: “daqui a dois anos, se ainda estiver viva, quero comemorar os meus 90 anos de idade!”
Pois bem, tia Amália, passaram-se dois anos e a senhora está viva. No convite que a senhora fez questão de enviar a seus seletos (embora não poucos) convidados está escrito: “Venha celebrar comigo a vitória dos meus 90 anos!” Comemorar este aniversário é, portanto, não apenas a consumação de um desejo seu, mas, também, e principalmente, uma celebração da VIDA!
As pessoas que comparecerão – parentes e amigos especialmente convidados por você – nenhuma delas estará, ao celebrar esta data, desrespeitando a memória da Karla Ivana que, no dia aprazado (14/09), estaria completando 50 anos de idade. Ao contrário, estas selecionadas pessoas serão, também, convidadas a prestar uma homenagem a ela, melhor se viva estivesse, claro!
Infelizmente, não vamos poder contar com a luminosa presença da minha mãe Aldenora que, diga-se de passagem, faria muito gosto em participar. Por ela, não tenho a menor sombra de dúvida, esta festa, mesmo nestas circunstâncias, aconteceria. A própria Karla Ivana, tenho, também, certeza, jamais desejaria constituir-se em empecilho a esta celebração
No dia 18 de janeiro último, quando completou um mês da morte da minha genitora, fiz, publicamente, uma solene promessa à senhora, de que lançaria, ainda neste ano, a segunda edição do livro de tio Gerson, atendendo, inclusive, a reclamos reiterado de sua parte, e decidi fazer coincidir o lançamento da obra na véspera das comemorações do seu natalício. É um presente meu, de todos os conselheiros da Fundação Nogueira Tapety – entidade da qual a senhora é uma das instituidoras – e de todos os que participaram desta empreitada entre eles seus sobrinhos-netos Laís e Último. A edição da obra de Gerson deu trabalho, mas nós procuramos dar um melhor de nós, Guga que o diga, também porque queríamos lhe dar o melhor presente possível. Sua festa de aniversário será, para nós, o coroamento dos esforços de quem passou boa parte do ano dedicado a isto!
Ademais, quantos de nós seus familiares e amigos tem colaborado para a realização comemorativa dos seus 90 anos? Todos os seus convidados e demais pessoas de bom senso, mesmo sabendo do recente “encantamento” da Karla Ivana, da dor que esta infausta notícia nos afligiu, desejam compartilhar das alegrias dessa efeméride sem o condão de estarem praticando nenhum desatino comportamental em face de tudo o que a senhora representa para nós e a nossa cidade.
Sei de sua formação ultramontana, do seu apego à Santa Madre Igreja, o seu extremado zelo humanitário. O Papa Francisco, na última Jornada Mundial da Juventude, ocorrida há poucos dias no Rio de Janeiro, mesmo mantendo-se fiel aos paradigmas católicos, nos deu inúmeros exemplos de flexibilidade de atitudes em sintonia com os tempos hodiernos.
Lembre-se que na programação do seu aniversário não há nenhuma ostentação à vista. Ao contrário, as manifestações serão calcadas em elevados sentimentos como a paródia que segue anexa, de autoria do Guga a meu pedido.
Por isso não tenho pejo de pedir-lhe, de coração aberto, por mim, por Aldenora, por Gerson Campos e, ouso dizer, até pela memória de Karla Ivana: por favor, tia Amália, não faça com que esta Vitória acabe tendo sabor de derrota!
Todos nós morremos, mas bem poucos de nós podemos comemorar 90 anos de vida.
Vamos todos exaltar o amor, o “primo da morte” como pontuou o poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade.
Com o respeito e carinho de sempre do seu sobrinho
Carlos Rubem
T I T I A A M Á L I A (paródia de Minha Tia, de Roberto Carlos)
Titia Amália, há quanto tempo eu quero te dizer
Que eu te amo muito mais do que o que possa parecer
A minha infância ao teu redor eternizou-se em minha cuca
Domingo, festa, algazarra e leitão à pururuca
Você fazia o que podia pra manter a disciplina
E sempre havia outra tia me ajeitando na surdina
Mas em bem sei que tu sabias o que estava se passando
Se enganava quem pensava que estava te enganando
A minha vida mudou, eu sei, mas as lembranças eu guardarei
Tudo vai bem, titia pode crer, pois estou pertinho de você
Titia Amália és baluarte da Cidade e da Família
E ai de quem não aprendeu as lições da tua cartilha
Autoridade é só quem tem, no olhar, nos gestos e na voz
O teu sorriso é lenitivo para cada um de nós
És partidária da Decência, defensora da Moral,
Teu porte altivo e elegante tem um charme imperial
À Juventude tu devotas alta consideração
E valorizas a Cultura, a História e a Tradição
A minha vida mudou, eu sei, mas as lembranças eu guardarei
Tudo vai bem, titia pode crer, pois estou pertinho de você
Titia Amália, o Espírito Santo é teu guia e tua luz
Te confiaste totalmente à custódia de Jesus
Rezar o Terço e a Santa Missa é tua rotina preferida
Nossa Senhora é teu refúgio nas aflições desta vida
Grande Pintora e Professora, orgulho da Comunidade
Teus ex-alunos te agradecem com carinho e com saudade
No Magistério realizaste um trabalho bem fecundo
Quem dera fossem como tu todas as mestras deste mundo
A minha vida mudou, eu sei, mas as lembranças eu guardarei
Tudo vai bem, titia pode crer, pois estou pertinho de você
Titia Amália, a casa cheia é motivo de alegria
A mesa farta, velhos papos, nova tecnologia
A discussão entre as irmãs também faz parte dessa história
Teu pensamento então se volta para a Virgem da Vitória
Por testemunhas, na parede, Vô Joel e Vó Bembém
E como o Amor é soberano, sempre corre tudo bem
Muito obrigado, tia Amália, por tornar a vida bela
Aceite esta homenagem tão pequena, tão singela.
A minha vida mudou, eu sei, mas as lembranças eu guardarei
Tudo vai bem, titia pode crer, pois estou pertinho de você