
Carta aos Oeirenses

*Por Joca Oeiras
Senhoras e Senhores:
Tomei conhecimento, anteontem, da transcrição de um destrambelhado discurso proferido na sessão ordinária da Câmara Municipal de Oeiras pelo vereador Espedito Martins no dia 06 de dezembro próximo passado. Nela o edil se refere, entre outras coisas e personalidades – marcadamente o Promotor de Justiça de Oeiras Dr. Carlos Rubem Campos Reis – à minha pessoa em termos com os quais não posso concordar. Fiz e faço críticas acerbas à gestão da Secretaria de Cultura e Turismo do Município de Oeiras e a minha primeira reação foi a de deixar pra lá, creditando os desaforos contra mim intentados ao descontrole emocional do parlamentar, que não tem como nem sabe de que maneira poderia defender a infeliz gestão de sua esposa naquela Secretaria.
Hoje, no entanto, recebi um e-mail de um grande e respeitadíssimo oeirense, Dagoberto de Carvalho Jr., que me fez repensar esta minha postura, de certo modo, displicente. Reproduzo aqui seu inteiro teor:
De: Dagoberto Carvalho Jr.
Para: Joca Oeiras
Enviadas: Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2011 16:28
Assunto: Foto
Meu caro Joca,
Recebi – através de Cassi * – cópia de artigo que o dinâmico e atencioso jornalista escreveu sobre mim (e ela), na ocasião em que a mesma recebeu o diploma de Sócia Correspondente da Sociedade Eça de Queiroz, do Recife. Muito agradeceria se você me enviasse foto sua, de boa qualidade para ilustrar publicação do artigo, em informativo da Confraria Eça de Queiroz (Oeiras).
Cordialmente
Foi este gracioso e gratificante e-mail, típico, aliás, do gentil-homem que atende pelo nome de Dagoberto de Carvalho Júnior que me animou a responder às aleivosias assacadas contra mim pelo nobre vereador. Como sei que muita gente não tomou conhecimento daquele infeliz discurso, passo a reproduzí-lo nas partes em que ele tenta me ofender:
“Chega aqui um Zé Ninguém que ninguém sabe de onde vem, para onde vai e assina Joca Oeiras, quem é esta pessoa pra usar o nome de Oeiras em qualquer coisa como sobrenome, respeite a cidade de Oeiras.”
“...site da Fundação Nogueira Tapety-FNT, que abre espaço para um cara chamado Joca Oeiras e aqui o vereador Leitiano encosta lá na mesa e diz ‘vereador , isso é um texto psicografado, é um texto espírita, aparece um nome mas eu não vou assegurar 100% aqui, mas eu tenho certeza que este tal Joca que eu não vou dizer porque ele se intitula, não tem competência para fazer esse tipo de coisa e, se tiver, não tem coragem de fazer e se está fazendo é porque está acobertado por alguém”(sic)
Não se limitam, embora bastem, ao autor de “Passeio em Oeiras” as referências elogiosas à minha pessoa e à minha atuação em defesa da Cultura de Oeiras. Poderia citar, se quisesse, inúmeros outros oeirenses e piauienses que me tem em alto conceito moral e intelectual. Limito-me ao reconhecimento público: fui dos poucos chamados “brancos” que recebeu, do grupo folclórico “Congos de Oeiras”, a insígnia “Esperança Garcia”, em cerimônia inesquecível realizada na Igreja do Rosário após uma empolgante Missa Afro. Tenho muito orgulho, embora alguns digam que isto não vale nada, também, de ter sido condecorado com a comenda da Ordem Renascença, medalha esta que recebi, em 19 de outubro de 2004, das mãos do governador Wellington Dias.
Não devo esquecer que, há poucos meses, em discurso pronunciado na Tribuna do Senado Federal, o Senador Wellington Dias disse:
“Para concluir, prezados colegas, quero mandar um fraterno abraço aos “quixotes” do Piauí (Joca Oeiras, Cineas Santos, Lenildo Lima, Fonseca Neto, entre outros) que, de forma destemida e rebelde, iniciaram essa luta no intuito de defender a cajuína como patrimônio cultural. E dizer que adorei o texto crítico do poeta Climério Ferreira que, em linguagem enxuta e bem humorada, expressou brilhantemente a indignação dos piauienses:
“A cajuína cristalina do Cariri? / A cajuína cristalina é de Teresina / Tem coisa que não rima / Tem coisa que não rola / A cajuína da Coca não cola”.
Notem que jamais – prove o contrário quem puder – produzi a menor crítica de caráter pessoal à Secretaria Carla Martins, pessoa com quem mantive, até hoje, trato urbano e civilizado, como, aliás, é meu costume. Pelo contrário, sempre reprovei quem procurava desmoralizá-la porque teria revelado não saber que Eça de Queiroz era um escritor do sexo masculino. Para mim o que importa, a meu ver, não é esta “sapiência”, que pouco, ou quase nada, acrescenta mas, sim, a sensibilidade para gerir (e ajudar a gerar) a cultura do nosso município. O poeta oeirense Fred Maia, participando de uma mesa redonda ocorrida numa das edições do Festival de Cultura de Oeiras lembrou que não é necessário sequer ser alfabetizado para produzir cultura de alta qualidade. Quando penso nisso lembro do grande Cartola.
Sensibilidade alguma. Foi neste quesito, ou principalmente nele, que eu reprovei, plenamente, a gestão da Secretária que não soube lidar nem com os agentes culturais locais nem com os demais produtores de cultura que visam, com toda a razão, encontrar, em Oeiras, uma efervescência cultural particularmente interessante. Emblemático foi, para mim, o insensato, deselegante e absurdo veto, por parte da Secretaria de Cultura, para o lançamento do livro “Noturno de Oeiras e outras evocações”, do consagrado poeta e acadêmico e magistrado campo-maiorense, Elmar Carvalho. O Instituto Barros de Ensino, dirigido pelas sábias mãos da professora Socorro Barros, sensibilizou-se com aquele descalabro – a recusa da Secretária de Cultura de Oeiras em patrocinar um livro de poesias sobre Oeiras – tomou para si a tarefa de lançar o livro do Elmar no IBENS, como de fato ocorreu com o concurso do ilustre advogado Dr. Moisés Reis que fez primorosa apresentação na memorável noite de 03 de dezembro de 2010. Diz Elmar, um diplomata, falando sobre o lançamento: “O livro Noturno de Oeiras e outras evocações já estava editado fazia alguns meses. Por motivos que não quero declinar, alheios à minha vontade, ainda não fora lançado...” O motivo, revelei aqui, foi a atitude nada diplomática, para dizer o mínimo, da Secretaria de Cultura e Turismo de Oeiras, Sra. Carla Martins.
Assiste razão ao vereador quando ele diz que eu gostaria de participar da organização do Festival. Aliás esta é uma aspiração legítima de todos os que amamos a cultura e a cidade de Oeiras. Não sei dizer se seria um bom gestor da cultura aqui ou alhures, mas garanto que agiria como um bom juiz de futebol, deixando a bola rolar e aparecendo o menos possível. Gostaria e gostarei se um dia puder ajudar a gerir a cultura em nossa terra, mas, caso isto ocorra, o farei isso com espírito servidor, não para auferir lucros ou alcançar glórias.
Quando Espedito Martins legitima o vereador Miguel Ângelo em suas críticas e denúncias pois trata-se, afinal, “do papel do vereador oposicionista” e busca desqualificar com ofensas pessoais e de forma rasteira, diga-se, as minhas críticas; embora sem esperança de que o nobre vereador entenda isso, afinal ele não consegue distinguir sua digníssima esposa, pessoa física, da incompetente e inoperante Secretária de Cultura e Turismo de Oeiras, pessoa pública, afirmo que a crítica não é “propriedade” de nenhuma oposição político-partidária, mas um direito da cidadania do qual jamais vou abrir mão, doa a quem doer!
*De Joca Oeiras, o Anjo Andarilho
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