
Qual a diferença entre Prestação de Contas e Defesa Técnica?
06/06/2025 - 14:33Por Hielbert Ferreira – Advogado, Conselheiro Seccional da OAB-PI e Presidente da Comissão de Defesa dos Municípios da OAB-PI
(*) Ferrer Freitas
O primeiro bairro em que morei na cidade do Rio de Janeiro foi Vila Isabel, nas proximidades da Praça Barão de Drummond (inventor do jogo do bicho), mais conhecida como Praça 7. Pegava, diariamente, o 434, ônibus da linha Grajaú-Leblon, na Teodoro da Silva, rua em que nasceu Noel Rosa, cuja casa deu lugar a prédio que leva seu nome.
Noel de Medeiros Rosa, o “poeta da Vila”, nasceu em 11 de dezembro de 1910, há 100 anos portanto, de parto laborioso, como se dizia antigamente, tendo sido necessário o uso de fórceps, o que lhe causou afundamento da mandíbula. Era de família de classe média e chegou a cursar medicina, só que sua vocação irresistível para a boemia terminou levando-o para a música, notabilizando-se como extraordinário letrista de páginas antológicas do cancioneiro popular. Pra quem viveu somente 26 anos, é incrível a produção musical que deixou. Seu primeiro sucesso, de 1930, muito tocado pelo regionais de Oeiras nos anos 50/60, tem o título “Com que roupa”, e foi composto, segundo li, pela dificuldade encontrada com o fato de sua mãe ter escondido suas roupas, numa tentativa de evitar que ele saísse para uma noitada.
Noel, além de franzino e sem queixo, tinha dificuldade de mastigação, o que o levava a alimentar-se mais de comidas líquidas. Aracy de Almeida, sua cantora predileta, disse em depoimento que ele gostava de isolar-se em restaurantes tentando evitar que o vissem comendo. Mesmo feio, era mulherengo e teve um grande amor na sua vida, uma prostituta de nome Ceci (Juraci), a quem procurava, diariamente, num dos cabarés que frequentava no bairro boêmio da Lapa. Tocava bandolim e violão e formou com Almirante, João de Barro, o Braguinha, e outros bambas, o conjunto “Bando de Tangarás”.
São inúmeros seus sucessos musicais: “Palpite Infeliz”, “As Pastorinhas”, “Pierrô Apaixonado”, “Feitio de Oração”, “O Orvalho vem caindo”, “Conversa de Botequim”, “O Gago apaixonado”, “Três Apitos” e outras belíssimas composições, muitas em parceria com João Gogliano, o famoso Vadico, um de seus parceiros mais fiéis, embora tenha composto ainda com nomes conhecidos , a saber, Lamartine Babo, João de Barrro, Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, Almirante, Sílvio Caldas. Ao todo foram 300 composições, sendo que a minha preferida é “Último Desejo”, só sua, eterna lembrança de memoráveis serenatas: “Nosso amor que eu não esqueço/E que teve seu começo/ Numa festa de São João./Morre hoje sem foguete,/Sem retrato, sem bilhete,/Sem luar e sem violão./Perto de você me calo/Tudo penso, nada falo/Tenho medo de chorar./Nunca mais quero seu beijo/Mas meu último desejo/Você não pode negar!”
Ninguém esquece Noel na sua cidade, o Rio de Janeiro, sobretudo no bairro de Vila Isabel, onde as calçadas do Boulevard 28 de Setembro, principal avenida, são partituras de suas músicas, em pedra portuguesa. Também na estátua em que ele está sentado em uma mesa de bar sendo servido por um garçom. E, mais ainda, em cada boêmio da Lapa velha de guerra. Salve, Noel!!!
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras