
Combatendo o maligno

Por Carlos Rubem*
Há uns 04 meses, notei macerado o rosto da minha mãe, Aldenora Campos, 79 anos. Disseram-me que estava com anemia. Prescreveram-lhe medicamentos. Determinado dia, soube que não queria ir a um consultório médico. Resolvi, então, convencê-la a se receitar. Deitada numa rede, em visível estado depressivo, segredou-me: “Meu filho, está chegando a hora do meu fim...” O certo é que a Dra. Alice a examinou. Recomendou-lhe que procurasse um centro médico especializado.
Gordona, com dificuldade de locomoção, na manhã seguinte, enquanto se arrastava até a casa do vovô Joel, foi acometida por uma síncope. Levaram-na ao hospital, em Oeiras. De imediato, foi transportada a Teresina. Mal dormiu numa cadeira do Hospital São Marcos para garantir uma acomodação adequada já na manhã do outro dia. Cousas da vida!
Sua saúde foi investigada com muita presteza. Submeteu-se a exames vários. O clínico, Dr. Guilherme, trouxe a notícia: câncer intestinal. Uma cirurgia se fazia necessária.
Marcada a operação, seu estado de saúde foi avaliado por diversos facultativos. O chefe da junta médica, Dr. David Carvalho, comunicou aos nossos familiares o alto risco contido na intervenção cirúrgica: idade avançada, cardiopatia, diabetes e outros trecos. As condições adversas eram patentes.
Mais corada, achou por bem rever seus pagos natalinos. Rendeu culto à imagem do Divino, ardente invocação da “Capital da Fé”. Oeiras lhe fez muito bem. Recebeu reforço espiritual durante os dias que antecederam sua operação, ocorrida nesta última terça-feira (20.09). Foi visitada por parentes e amigos. À noite, antes de ser submetida a uma laparotomia, confessou-se com o Padre Domingos, colado à Paróquia de N. Sra. da Vitória. Foi ungida com os santos óleos. Houve uma rápida liturgia. Em dado momento, ela começou a cantar: “O meu coração é só de Jesus / A minha alegria é a Santa Cruz...” Contive a emoção..
No dia combinado, por volta das 11h, conduziram-na ao centro cirúrgico. Fiz questão de acompanhá-la elevador abaixo. No momento em que a maca estava adentrando a área restrita, ainda pude lhe dizer: “Este beijo quem lhe mandou foi Benedito de Macedo Reis” (meu falecido pai). Satisfeita, sorriu.
O Dr. David Carvalho nos havia dito que a cirurgia deveria terminar por volta das 15h. Passado este horário, meus irmãos e demais familiares, ficamos todos apreensivos. Certamente tendo visto as mil chamadas que foram feitas para o seu celular, o primo Joel Neto – ortopedista, que a tudo presenciou – telefonou para dizer que, dali a pouco, viria conversar conosco. O medo dominou a todos!
Quando o Dr. Joel Neto apontou no final do corredor, a mana Amada, com os nervos em pandarecos, elevou a voz: “Mamãe morreu?” Joel explicou que o tumor havia aderido ao fundo da bexiga. Foi preciso cortar parte deste órgão e, com isso, a extirpação do “maligno” em si, só naquele momento estava se dando. Os minutos duraram uma eternidade. Lá pelas 17h30min, enfim, o Dr. David Carvalho nos apareceu para relatar as intercorrências. Afirmou que a paciente havia resistido, a contento, à operação, encontrando-se já na UTI. Foi um alívio... Bem que gostaria ter fotografado aludido procedimento medicinal!
Agora, convalesce num leito hospitalar. Demonstra alegria e confiança na recuperação. Faz até planos. Diz que mereceu a graça de Deus! Está doida para agradecer a todos que, de qualquer forma, contribuíram para o sucesso de sua cirurgia.
Como sempre ocorre, tornou-se amiga do pessoal do “São Marcos”. Aliás, tem um fisioterapeuta, não sei seu nome, que a chama de madrinha. Seu novo afilhado fez amizade, também, como Inácio Barbosa, fiel escudeiro de Aldenora. Pessoas de fino trato.
Ao conhecer a gentil, dedicada e competente enfermeira Carol – que, apesar do seu estafante trabalho e de sua indumentária despojada de adereços (uma exigência do ofício, eu não sabia) não perde a capacidade de ser linda – estou convicto de que mamãe está sendo bem tratada.
Conquanto esperançoso, não me iludo: minha genitora vai precisar de muita força para enfrentar os percalços que tem pela frente...
*Promotor de Justiça
Originalmente publicado no Portal FNT