
Das barrancas do rio gavião
Pelo menos uma coisa, nós de Oeiras, temos em comum com Elomar, a padroeira , Nossa Senhora da Vitória. Mas, afinal, quem é ele? De nome completo Elomar Figueira Mello, é uma das atrações do próximo Festival de Cultura. Cantador, violeiro, menestrel, compositor, nasceu em Vitória da Conquista (antigo Arraial da Conquista, 1783), sertão da Bahia, em 21 de dezembro de 1937. É ainda graduado em arquitetura pela Universidade Federal da boa terra, com passagem pela Escola de Música. Seu negócio, no entanto, desde o final dos anos 1970, é a musica, que alterna com a criação de bode em suas fazendas, principalmente a Gameleira, que ele chama de Casa dos Carneiros, nome de belíssima composição sua, uma das principais, e fica a 22 quilômetros do centro da cidade, como gosta de dizer. Outra: “minha vida é chiqueirar e pastorar, tangerino de ovelhas e bodes.”
Por conta do criatório e de uma vida até certo ponto reclusa, Henfil, cartunista extraordinário e ativista político em plena ditadura, inspirou-se nele para criar o personagem Bode Orellana, que, à falta de água no sertão calcinante, bebia a própria urina. Dividia os quadrinhos com a ave graúna e um cangaceiro.
Sua discografia, que tem início com o disco que dá título à crônica, inclui preciosidades como “Elomar em Concerto”, com a participação de Jacques Morelembaum, e “ConSertão”, gravado com Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte, trabalho belíssimo, como não poderia deixar de ser, não só pelos músicos envolvidos, mas pela composições e arranjos. É, como muitos gostavam de dizer, “coisa de cinema.”
Ah!, ia me esquecendo, a música de Elomar tem influência na tradição ibérica e árabe, que a colonização portuguesa trouxe ao Nordeste, e que está de parabéns quem sugeriu o nome dele para o Festival.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras