
Desencanto
Por Milena Palha
Então acreditaste que meu encantamento por ti não era por ti, mas por tua poesia.
Tentavas em vão fazer-me crer que, encantando-me com tua poesia, devotava a ti meu encantamento, por seres tu, a parte “palpável” das emoções que teus doces dizeres faziam abrolhar. Jamais me convencias.
Coisa que nunca consideraste é que antes de “conhecer” a ti, eu conhecera tua poesia. Ela me soava linda. Contudo o encantamento só me veio depois que a ti eu “conheci”.
Então decidiste desencantar-me! Decidiste fazer-me perceber que desencantada de ti, encantava-me ainda com tua poesia. Assim, achaste, esclarecer-me-ia que meu encantamento por ti não era por ti, mas por tua poesia.
Foto: Internet
E foste o oposto de ti. Contrariaste teus próprios credos. Enturveceste tua luz. Arrefeceste tua inspiração. Fizeste o que o amor não faria...
E tanto tentaste que, por fim, conseguiste. Como no reverso de um flash, como na fotografia do desamor; escureceste a imensa ternura que havias cultivado em mim.
Desencantaste-me, te estranhei, me afastei, não mais te quis perto de mim. Era isso que tu, parece-me... querias.
E, desencantada de ti, olhei de novo tua poesia. Era urgente aferir se a razão te assistia ... viajei por tuas palavras, deslizei nas tuas linhas, olhei o pôr do sol alaranjado que desenhaste em teus versos, voei com as borboletas do teu jardim...
E a tua poesia me falava das mesmas coisas de outrora, sempre linda, mas, ao meu coração ela já mais nada dizia. E minh´alma ela já não mais estremecia. E desencantada de ti, não me encantou mais tua poesia.
E, agora que já é tarde, que laceraste o coração que te queria, responde-me então se sabes: era por ti meu encantamento ou era só por tua poesia?
(Milena Palha - Fortaleza 12/01/2015)