Saúde no Mural
Enfermeira Elaine Carininy detalha o trabalho da estomaterapia, no tratamento de feridas
Elaine Carininy atende pacientes na SID e também em domicílio.
Por: Da Redação em 18/08/2019 - 19:33
A estomaterapia, desde 1980, é uma especialidade exclusiva do enfermeiro, voltada para o cuidado de pessoas com estomias, feridas agudas e crônicas, fístulas, drenos, cateteres e incontinências anal e urinária.
O trabalho do enfermeiro estomaterapeuta consiste no cuidado de lesões e feridas agudas e crônicas , além de feridas complexas com o objetivo de tratar, prevenir e reabilitar pacientes portadores de feridas agudas (cirúrgicas, por exemplo), tratamento de fissuras mamárias; feridas crônicas (úlceras por pressão, varicosa, diabética), dentre outras, além de proporcionar orientação ao paciente e familiares quanto a prevenção de novas lesões.
Em Oeiras temos a enfermeira Elaine Carininy, especialista na área, que vem atendendo pacientes de Oeiras e região. Eliane Carininy, nasceu em Teresina, mas tem raízes em Oeiras, seus pais são oeirenses. Ela atende na SID e também em domicílio. Veja os contatos ao final da entrevista.
Confira!
-A sua especialidade é nova em Oeiras. Fale-nos um pouco sobre a estomaterapia.
A estomaterapia desde 1980, é uma especialização específica da enfermagem em que o estomaterapeuta atua nas seguintes áreas: Feridas, estomas e incontinência
- Quais são as principais diferenças no cuidar de um enfermeiro estomaterapeuta?
O estomaterapeuta possui uma visão mais especializada em que o paciente é visto de forma integral identificando todos os fatores que podem interferir na cicatrização e dessa forma eliminar o que prejudica esse processo, além de atuar bem como na prevenção da ocorrência de novas lesões. Em relação ao estoma o cuidado do especialista proporciona melhor adaptação da pessoa com estoma, bem como a prevenção a tratamento das complicações.
-Como é a atuação do enfermeiro estomaterapeuta?
Quanto às feridas, a atuação inclui a prevenção e o tratamento de feridas agudas, crônicas e complexas, para tanto é necessário que o estomaterapeuta avalie o leito da ferida, observe a existência de tecido morto, sinais de infecção, presença de secreção, características da pele ao redor da ferida para assim prescrever a melhor cobertura.
Em relação aos estomas (a atuação inclui desde a demarcação do estoma no pré-operatório, como nas orientações, cuidados e prescrições de adjuvantes específicos para estomas de eliminação) e quanto a incontinência anal e urinária (prevenção e tratamento da incontinência anal e urinária, treinamento do assoalho pélvico por meio de biofeedebck ou eletroestimulação, orientações sobre o Cateterismo Intermitente Limpo).
- Por ser uma especialidade ainda pouco difundida aqui em Oeiras, como tem sido o seu trabalho?
Ainda é um trabalho de formiguinha, a procura maior ainda é pelo tratamento de feridas crônicas e complexas, (apesar de trabalhar também com estomas e incontinência) mas que aos poucos está crescendo à medida que consigo ajudar no fechamento de uma ferida, nesses casos o próprio cliente/paciente e até mesmo os profissionais de saúde do município (médicos, enfermeiros, nutricionista, fisioterapeutas) me indicam para outras pessoas (a famosa propaganda boca a boca).
Iniciei no município, como alguns profissionais da cidade, atendendo no domicílio. Hoje além do atendimento em casa, faço o atendimento em consultório, principalmente para as pessoas de outros municípios.
Em relação ao tratamento das feridas, o meu trabalho consiste na avaliação da ferida e determinar os fatores que estão atrapalhando a cicatrização, dessa forma utilizo coberturas especiais indicadas para cada etapa da ferida, além da estimulação da cicatrização utilizando o laser de baixa potência, que também é utilizado no tratamento da dor e das fissuras mamárias durante a amamentação.
Na parte de estomas eu faço a avaliação do estoma e da pele ao redor, identificando a presença de complicações e já indicando a melhor conduta para correção do problema, além das orientações para a pessoa com estoma e família sobre os cuidados com o estoma e a pele.
Em relação a incontinências atuo principalmente no treinamento para o cateterismo intermitente limpo (que é o procedimento em que o próprio paciente realiza o esvaziamento da bexiga por meio de um cateter).
- Como a senhora decidiu seguir para esta especialidade?
Comecei a me interessar por feridas após a experiência da minha mãe que teve uma úlcera venosa que levou 02 anos para cicatrizar. Na época eu ainda era estudante de enfermagem. O fato de ver o sofrimento de minha mãe com a ferida me fez estudar mais sobre o tema, investigar qual o melhor tratamento e identificar quais os fatores que dificultavam o processo de cicatrização, dessa forma, sempre busquei cursos que pudessem me fazer entender mais sobre a cicatrização e assim melhorar a assistência e consequentemente a cura da minha mãe. Quando conseguimos eliminar todos os fatores que dificultavam a cicatrização e ver o processo acontecer em menos de 1 mês fiquei apaixonada pela possibilidade de cuidar de pessoas com feridas.
À medida que buscava conhecer mais sobre feridas, conheci a estomaterapia, e desde então tive o desejo de fazer a especialização, até que surgiu a oportunidade e a UESPI abriu inscrição para o curso em Teresina e hoje estou concluindo a minha especialização.
Nesse processo de melhoria do conhecimento fiz cursos com estomaterapeutas incríveis, que aumentaram ainda mais meu desejo de seguir na estomaterapia. Destaco entre eles a Dra. Sandra Marina, coordenadora da especialização em Estomaterapia no Piauí que hoje é um modelo de estomaterapeuta a ser seguido e a Dra. Sâmia Oliveira (que me desafiou a ajudá-la no tratamento de um paciente dela que reside aqui em Oeiras, e que precisava de assistência especializada) esse convite foi muito importante, pois me despertou para ver que era possível trabalhar aqui no município com feridas, estomas e incontinência.
- A sua contribuição para a estomaterapia em nossa cidade é reconhecida por todos que conhecem o seu trabalho. Qual o balanço que a senhora faz desta especialidade?
A estomaterapia para quem conhece e teve a oportunidade de ser tratada por um estomaterapeuta representa sem dúvida melhoria na qualidade de vida do paciente/cliente. Imagina a pessoa com uma ferida há mais de 02 anos e que perdeu a esperança de um dia cicatrizar a ferida e depois do tratamento correto estar com a sua ferida cicatrizada. Ah! Isso não tem preço, até me emociono quando vejo os resultados. Como eu costumo dizer para meus pacientes/clientes: “Quem trata a ferida tem tanta vontade de ver fechada quanto o paciente”.
Já deparei com situações em que o médico disse para o paciente que o pé não tinha jeito e que a solução seria amputá-lo. Com o tratamento adequado foi possível evitar a amputação. Dá para imaginar o quanto isso significa para o paciente?
Em relação a incontinência, imagina um cadeirante que tem a liberdade de decidir em que momento ele vai esvaziar a bexiga, sem ter que ter o incomodo de ficar com uma sonda 24 horas por dia, o treinamento do cateterismo intermitente limpo garante autonomia ao cadeirante, ele é orientado a esvaziar a bexiga de acordo com o programa indicado ao seu caso. Isso é muito interessante, proporcionar melhoria na qualidade de vida.
- A senhora está constantemente viajando para participar de congressos e eventos da área onde além de ampliar sua qualificação, divulga os trabalhos realizados em Oeiras. Quais as suas percepções em relação ao trabalho que vem sendo realizado aqui na cidade em relação a estomaterapia?
Ainda existem muitos desafios em relação a estomaterapia, no Brasil, Piauí e sobretudo em Oeiras. Destaco em relação a área de feridas como principal a falta de recursos, pois algumas das coberturas utilizadas são caras e nem sempre a população tem condição para arcar com o tratamento. Dessa forma, muitos continuam utilizando produtos que nem sempre vão ser adequados a fase da cicatrização da ferida o que vai prolongar o tratamento, aumentando as chances de cronificação da ferida, dificultando a cicatrização.
- Qual a importância da consulta de Enfermagem no pré e pós-operatório de estomias?
Elas são de grande importância. No pré-operatório, dentre os cuidados prestados deve ser realizado a demarcação do local do estoma pelo estomaterapeuta, que tem como finalidade assegurar a localização mais apropriada do estoma para favorecer o autocuidado e a redução das complicações com o estoma e a pele ao redor.
No pós-operatório, o estomaterapeuta avalia as condições do estoma e da ferida operatória, verifica as características das fezes ou urina, bem como a presença de complicações e condições do equipamento a fim de orientar o estomizado e a família sobre os cuidados necessários para a prevenção das complicações. Essa orientação durante a alta hospitalar faz muita diferença no processo de reabilitação do estomizado.
- Há muita demanda e poucos profissionais atuando. Pela sua experiência, falta qualificação?
Não diria falta de qualificação, na verdade falta de oportunidade para que o profissional possa se qualificar. Fica complicado para o profissional que trabalha seja na estratégia de saúde da família como em regime de plantão, sair do seu serviço para qualificar-se pois nem sempre os melhores cursos de capacitação acontecem na cidade, é necessário buscar em Teresina ou até mesmo em outros estados essa qualificação o que eleva o custo dificultando ainda mais a mesma.
-Quais são os aspectos organizacionais necessários para o desenvolvimento de serviços e programas para atendimento de pessoas estomizadas e incontinentes?
Em relação aos atendimentos de pessoas com estomas existe a Portaria 400/2009 do Ministério da Saúde que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Atenção à Saúde das Pessoas estomizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde. Essa portaria define as ações que devem ser desenvolvidas na atenção básica e nos Serviços de Atenção à Saúde das Pessoas Estomizadas, bem como da distribuição de equipamentos coletores e adjuvantes para estomizadas.
A meu ver uma das dificuldades no aspecto organizacional diz respeito a centralização do serviço que atualmente ocorre apenas no Lineu Araújo em Teresina, o que dificulta o acesso aos estomizados do interior do Estado, sobretudo os da região sul que são mais afastados da capital. Além disso, ainda existe a limitação de recursos (a portaria prevê a distribuição de bolsas coletoras e dos adjuvantes para prevenção e tratamento das complicações da pele periestoma), no entanto, na maioria das vezes ocorre a distribuição apenas da bolsa coletora que nem sempre é a mais adequada ao estomizado.
Quanto ao atendimento às pessoas com incontinência, observa-se que ainda existe a necessidade de consolidar essa assistência. Em alguns centros de reabilitação como no caso do CEIR também localizado em Teresina já existe a questão do treinamento e orientação ao indivíduo cadeirante sobre o Cateterismo intermitente Limpo (que é o procedimento em que o próprio paciente realiza o esvaziamento da bexiga por meio de um cateter), essa realidade ainda não está presente nas cidades do interior. Vejo que existe uma necessidade grande de capacitação e orientação inicialmente dos profissionais sobre o procedimento para que assim seja repassado aos pacientes.
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