Eu estou só! disse-me rona por três vezes.
Contar o que se sucede ao meu redor e o que me assombra. A base de tudo é o assombro. Quando algo me surpreende quero compartilhá-lo com os demais.
(Pedro Juan Gutiérres - escritor cubano)
O chamado veio pelo telefone: Jota Jota, estou em Teresina na Polícia Federal para depor e eu gostaria que você viesse até aqui, pois “estou só!”- Atravessei a cidade e fui ter-me com Rona. O encontrei na sala de espera, lívido, sudorese excessiva, voz embargada, mãos trêmulas. Pergunto pelo seu advogado, ele me responde que apenas fora deixado ali e orientado que para aquela oitiva não haveria necessidade da presença do advogado. Tento tranquilizá-lo, dizendo que a peça chave deste processo não é ele. Ali, ele era apenas mais uma vitima de uma política estúpida, praticada em nossa querida Oeiras. -Mas, minha mãe, meus filhos, minha mulher e irmãos estão lá, todos preocupados- desabafa seriamente.
Eu que costumo buscar o lado humano das coisas mesmo que este nos assombre, como bem diz o escritor cubano citado, disse-lhe também que tanto ele, como eu, e todos o oeirenses que desejam e não se permitem ver os seus sofrendo tais opróbrios em razão de práticas tão vexatórias; nós que queremos que nossos filhos caminhem em direção ao futuro sem o medo e sem a assombração da infeliz promessa de que se correr o Arrocho come e se ficar a Taca pega, não podemos mais aceitar certas coisas e rechaçar veementemente erros que se passam sob nossos olhos.
Quando o delegado avisou que chegara sua vez, ele levantou-se e disse-me baixinho pela segunda vez: -Estou só mesmo!- e sumiu pelo corredor .
Por duas horas o esperei na antesala. Ao sair me disse um tanto aliviado. –Os homens são duros!- Só então comecei a enxergar o Rona alegre que sempre foi, simples e cheio de piadas. Já passava do meio dia, era preciso procurar algo para comer e beber.
-Tenho que esperar o dinheiro do almoço!- Assustado pergunto-lhe se ele estava sem dinheiro. Ele me responde em tom de brincadeira: -Estou largado aqui sem um tostão furado!- Sorrimos! Muitas vezes diante das assombrações da vida o melhor é sorrir. –Estou realmente só!- disse-me pela terceira vez. E passamos o resto da tarde jogando conversa fora, relembrando, sorrindo! Fiquei sabendo que por volta das quatro horas da tarde conseguiu o dinheiro. Na despedida ele tira a última e em voz alta me pergunta: QUANTO REALMENTE VALE UM HOMEM? Esta frase é o título de um artigo que escrevi há alguns anos.
Jota Jota Sousa é escritor oeirense