
João de Souza Martins, o cônego forâneo

*Por Júnior Vianna
Algum tempo atrás ouvi de um amigo historiador a assertiva de que: “nos cemitérios existem dois tipos de defuntos: os mortos e os verdadeiramente mortos”. Noutras palavras ele quis dizer que os mortos são aquelas que mesmo diante do repouso eterno, de alguma forma ainda são lembrados. Já os verdadeiramente mortos são os que até das lembranças foram apagados. Pois bem, diante dessa análise, me trás uma preocupação ouriçada, haja vista que há um tempo venho buscando reconstruir a memória histórica de padre João de Souza Martins (filho ilegítimo do Visconde da Parnaíba) para que o mesmo não seja classificado como verdadeiramente morto.
O aludido religioso foi um dos homens mais notáveis de sua era. Mesmo sendo um bastardo, subverteu o óbvio e de carona na boa expertise política do genitor galgou com presteza importante cargos no império, tão quanto notáveis títulos. Mesmo com toda essa grandeza, o tempo não foi muito ao seu favor, quase nunca o seu nome é lembrado. Uma das poucas homenagens ao seu benefício é uma rua que leva o seu nome.
Quem busca saber mais a respeito deste fidalgo sertanejo tem-se uma lápide que outrora fora colocada sobre o seu túmulo no interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória em Oeiras-PI, todavia, eis a gravidade da situação: a lousa mortuária está em completo estado de avaria, a condição é tão lastimosa que pouco dar para fazer leitura do epitáfio que ali foi escrito. Na companhia de um amigo em véspera de se graduar em história, buscamos decifrar o que ali foi redigido e chegamos a conclusão pelas datas quase que apagadas que João de Souza Martins faleceu no dia 01 de janeiro de 1876, aos 62 anos de idade, tendo assim, nascido em 1814.
No texto ainda informa que o mesmo foi vigário geral forense da Província do Piauí, cargo exercido do ano de 1840 até o momento de sua morte. Foi ainda o filho do Visconde, Cônego da Capela Imperial e Cavaleiro da Ordem de Cristo. O epitáfio de sua lousa finaliza atestando que o mesmo foi “bom e zeloso pastor” e por fim “Réquiem at in pace” (Mas descanse em paz).
Desta feita, de acordo com informações de sua lousa em consonância com outras pesquisas, chega-se a conclusão que João de Souza Martins assumiu o vicariato Geral do Piauí com apenas 26 anos, uma vez que a diocese do Maranhão estava dividida em duas vigararias gerais, uma com sede em São Luís - MA e outra em Oeiras do Piauí, sendo esta última totalmente dependente da Cúria maranhense.
No Almanak Administrativo da Província do Maranhão (1875, p.37), valida: “Este vigário Geral acha-se especialmente subordinado ao bispo”. Assim, por 35 anos João de Souza Martins foi Vigário Geral Forâneo do Piauí com sede na Matriz de Nossa Senhora da Vitória em Oeiras-PI. Já no fim de sua vida por vaidade ou mesmo capricho ainda mantinha a mesma função. Era intitulado nos documentos eclesiásticos da Sé do Maranhão como “Paracho Collado – Cônego honorário”, haja vista que em seu favor tinha-se um vigário coadjutor (sacerdote nomeado para ajudar), por nome de José Dias de Freitas.
Aos poucos a história deste fidalgo sertanejo brota das ruínas do esquecimento, enriquecendo as páginas de nossa memória. Cônego João de Souza Martins é de fato um ilustre piauiense.
*Junior Vianna é Presidente do Instituto Histórico de Oeiras