
Mulher de verdade

* Por Sânia Mary Mesquita
Que me perdoe Mário Lago, e me desculpe Ataulfo Alves, mas pra ser mulher de verdade jamais abrirei mão da vaidade.
Não da vaidade por ela mesma, de estar bela, bem vestida e maquiada – isso faz parte, mas não é a essência – mas a vaidade de ser autêntica, independente, verdadeira. De ser trabalhadora, guerreira, de lutar por meus ideais, de não ser submissa (no sentido de subserviência), não deixando jamais de buscar melhorias profissionais, familiares e sociais.
“Às vezes passava fome ao meu lado e achava bonito não ter o que comer. E quando me via contrariado, dizia, ‘benzinho, o que se há de fazer?’.” Mais uma vez contesto a verdade dessa mulher acomodada, reduzida a uma insignificância tamanha... Conformada com a miséria e a humilhação a que estava exposta, à fome de sonhos, à falta de planos, à total ausência de expectativas. O que se há de fazer é manter-se firme na lida diária, no trabalho, com a lida familiar, com os sentimentos, as aflições...
As mulheres brigaram (e brigam) por condição de respeito e atenção. A igualdade buscada não é real, ou seja, não buscamos ser iguais aos homens, procuramos, sim, ser valorizadas (também por eles) naquilo que mais sabemos fazer: acolher. Porém, o que torna essa caminhada mais tortuosa não é o pouco tempo, não é a cultura, não são os homens. São as próprias mulheres. Em sua grande maioria mulher não admite ser liderada por outra, ter como chefe outra do seu gênero, ver outra mulher ocupando cargos de destaque (não no sentido fútil do termo, mas destaque por merecimento e competência).
Mulher é tudo isso, uma miscelânea de sentimentos, um turbilhão de emoções, um cérebro que ama, um coração que admira, um olhar que cativa, uma mente que brilha, uma idealista eficaz, uma cientista social, que promove a igualdade e a partilha equânime (seja no muito, seja no pouco) no recanto do seu lar. Precisa estudar, trabalhar, ser esposa, companheira, mãe, mulher, fêmea. Pra ser completa precisa cuidar do eu interior e do exterior, pois ela não é uma só, ela é muitas.
Por séculos soubemos esconder muito bem nosso poder – como dizem: o poder da saia. Atualmente esse domínio tem deixado o véu de lado e passado ao cento do palco. O protagonismo feminino é algo que não se esconde mais. Estamos à frente, ao lado, atrás dos homens, companheiros, colegas de trabalho, simplesmente, estamos, chegamos.
E nada de saudades da Amélia... Isso foi apenas um espectro de mulher, que muito deixa a desejar para alcançar o título de “mulher de verdade”.
* Sânia Mary Mesquita é advogada