‘’Não somos recursos’’
POR ROGÉRIO NEWTON
Ontem fui ao Parque da Cidade de Belém, para conhecer a Green Zone (Zona Verde) da COP 30, mas o acesso estava permitido somente para pessoas que trabalhavam na montagem dos stands e em outros serviços, a fim de deixar tudo pronto para a abertura da Conferência nesta segunda-feira.
De lá voltei a Ananindeua, município da região metropolitana de Belém, onde estou hospedado em um lugar silencioso e tranquilo. Com tempo livre, fui visitar o Parque Cultural Vila Maguary. É um parque pequeno, mas suficiente para atrair muita gente que vai caminhar, correr, andar de bicicleta, sentar-se na grama ou nas cadeiras para conversar ou comtemplar. Um pequeno rio, que passa ali, é ladeado por árvores, mas o curso d’água é um tanto quanto fedorento. O Teatro Municipal de Ananindeua funciona dentro do parque.
Enquanto a COP 30 não começa, passo em revista as notícias que estão rolando, em parte resultante dos dois dias de reuniões da Cúpula dos Líderes, realizada em Belém, na quinta e sexta-feira. A Cúpula anunciou quatro documentos oriundos dos debates e a criação do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre. Uma das metas é multiplicar por quatro o uso de combustíveis “sustentáveis” em todo o mundo.
Em geral, as notícias veiculadas pela mídia dominante reforçam o discurso monetizado. As medidas para alcance do limite de 1,5 graus de aumento da temperatura média global estão sempre vinculadas a grandes somas de dinheiro.
O discurso monetizado é um sintoma de que as propostas que a grande mídia dissemina estão sempre dentro da esfera do capitalismo, que, em última análise, está na raiz dos problemas ambientais causados em todo o mundo. Produzir e consumir em escala crescente, uma das premissas do capitalismo, vai na contramão da conservação da natureza. O “domínio da natureza”, que existe desde os primeiros tempos da modernidade capitalista, é também outro paradigma incongruente com as metas climáticas divulgadas em Carta pela Cúpula dos Líderes.
“Não somos um recurso, somos pessoas”, afirmou Aílton Krenak, a propósito da exposição Adiar o Fim do Mundo, na FGV Arte, no Rio de Janeiro. Em outra ocasião, ele havia criticado o discurso da “sustentabilidade”. Eu também concordo com a afirmação do líder indígena, ativista e escritor. O que a grande mídia consolida são paliativos mantenedores da situação ambiental desastrosa. Dentro dos paradigmas da modernidade capitalista não há saídas.
Mas certamente, além de todo o espetáculo, haverá na COP 30 abordagens críticas de grupos, ativistas e pensadores independentes. É o que espero encontrar nos dias de realização da Conferência.




