
No século xxi, jornalista sem diploma fica capenga, ou capan
Pois é! Também vou meter a minha colher nesse cozidão em que se transformou a decisão do Supremo Tribunal Federal que acabou, na semana passada, por 8 votos a 1, com a exigência do canudo de jornalista para o exercÃcio da profissão. Muita gente aplaudiu o STF e muita gente, também, ficou emburrada com a sua decisão, chorando sobre o leite derramado. Mas - atentai bem! - pelo que sei, só quem está se dando bem com leite derramado é Chico Buarque, que deu este tÃtulo ao seu último livro e está vendendo como água.
O barulho em torno da queda do diploma não é para menos. O jornalista, embora não ofereça riscos à vida de terceiros, como bem enfatizou o presidente do Supremo, mexe com a vida de muita gente, para o bem ou para o mal. Daà a repercussão do assunto.
Mas eu pergunto: por que, para derrubar o diploma, o ministro Gilmar Mendes comparou a atividade do jornalista à de cozinheiro? Seria algum ato falho freudiano? É! Não é a Justiça que tem a mania de cozinhar em "banho-maria"? Ou será que é por que os jornalistas são dados a "frituras" de personalidades, especialmente daquelas que se desviam de suas funções? Ou será, ainda, que é por que os escândalos polÃticos brasileiros sempre acabam em pizza? Não sei. Sinceramente, não sei.
Penso, entretanto, que, nesse mingau, o ministro misturou alhos com bugalhos. Ou será que é por que o jornalista, quando não é insosso, carrega no sal e, por muitas vezes, deixa também o seu prato apimentado, provocando azia?
Pelo arrazoado do presidente do Supremo, desconfio que temos que cuidar urgentemente de novas regulamentações de outras profissões, aquelas que representam perigo à vida humana. Quem tem poder de causar riscos à vida alheia, no exercÃcio de sua profissão? Médico? Engenheiro civil? Policial? Nem um desses tem mais poder de fogo, na questão da ameaça à vida, quanto o piloto de avião!...
Bem, o fato é que, pela decisão do Supremo, a partir de agora qualquer sujeito que não der certo em sua profissão pode tentar o jornalismo. E por que não? Mas não é preciso ir a outra faculdade, não. Pode sair direto do "Brasil Alfabetizado" para uma redação. Segundo o ministro, diploma não põe talento em ninguém. Nem, tira, não é?
Mas, cá pra nós, diante de tudo isso, eu fico assim com a sensação de que, em pleno século 21, na era da informação, jornalista de verdade, sem diploma, fica meio capenga. Ou meio capanga.
* Zózimo Tavares é Editor Chefe do Jornal Diário do Povo