
Nossa senhora da Vitória de Todas as Freguesias

* Por Júnior Vianna
Nas ribeiras do Mocha, no apagar das luzes do século XVII, erguia-se entre mufumbos e juremas a ermida de Nossa Senhora da Vitória. Firmava-se a freguesia sertã sobe a batuta de Tomé de Carvalho, que pela vontade de Deus se fez apóstolo sertanejo. Fecundava-se na árida terra a semente da fé, que não tardou a germinar os pomos da vitória. Vitória dos curraleiros que rasgaram as matas tangendo o gado, solitários, contritos e mistificados no aboio dolente, canto de gênese mourisca, que se fez símbolos dos vaqueiros, ”homens bons” que tomados pela fé germinante ajudaram a alicerçar e erguer o templo da Virgem da Vitória.
Muitas foram às vitórias, desde a Aljubarrota pontuada pelo rei Dom João I a vitória do servo da corte João Pereira Calda, que nos rincões do Piauí efetivou sobre a benção de Deus, as freguesias referenciadas pelo templo-mor de Nossa Senhora Vitória, assim na Parnaguá ribeirinha se fez a devoção a Virgem do Livramento, situada na mesma direção meridional da Freguesia de Santo Antônio de Jerumenha, mesma devoção de Campo Maior.
Não muito distante na vila de Marvão (Castelo do PI), sua gente desde meados do século XVIII prostram-se diante a Nossa Senhora do Desterro, devoção mariana parecida a de Valença de suas duas padroeiras, quando recorrem a Virgem imaculada do Ó, prudentíssima, tal qual em Parnaíba com a devoção a Nossa Senhora da Divina Graça. Eis ai a vitória da fé, que agora pouco nascera e em breve tempo dominou os vales, as chapadas, as serras e planícies dessa terra piauiense.
Vitória da igreja de Deus, guiada pelo báculo da concórdia desde a carmelita benção de Dom Francisco de lima, efetivada pelo bispado de Dom Expedito Lopes e depois de tantos entraves eis o nosso povo sob a liderança de Juarez de Sousa, o servo-mensageiro que veio “para que todos tenha vida”.
Senhora da Vitória dos humildes, dos pobres e doentes, mãe da misericórdia divina, e de todas as raças. Senhora da verdade, dos segredos e dos desamparados. Mãe de todas as gentes, pois “Sois o gozo e riso dos desconsolados e desgraçados, doçura e vida” como assim bem dizem os pretinhos dos Congos que na doce colina bailam em louvor a vossa gloria. Vitória de um povo liberto das agruras, mas ainda refém dos preconceitos. Virgem Imaculada da Vitória de um povo hibrido, que pardos pela denominação racial se irmanaram na fé mariana e debulham rosários em vosso bendito nome.
Em fim, eis a Oeiras jubilosa que nasceu sob as bênçãos de Nossa Senhora da Vitória, cidade mariana, referência para o surgimento de tantas outras cidades marcadas pela afetiva ligação com a igreja Católica e Vitória do Piauí por ter a Virgem da Vitória como sua protetora.
*Júnior Vianna é historiador