O ''cumpade''
Por Benedito Amônico
Na maioria dos municípios nordestinos, a época da campanha eleitoral é o período de maior fartura para a população. Políticos e afins se tornam figurinhas presentes no cotidiano do lugarejo. Promessas de empregos para os filhos, construção de poços artesianos, açudes, calçamento, asfalto e outras benfeitorias se tornam o assunto corriqueiro nas rodas de conversas do eleitorado. Vez por outra, o fanatismo não ideológico fala mais alto e leva "cumpades" a se tornarem inimigos; chegando, muitas vezes, às vias de fato.
Mas, nessa corrida desenfreada de enganação, se destacam os pseudos "salvadores da humanidade", aqueles que apresentam maior habilidade em agradar com suas mentiras.
Conta-se que, um certo político, tremendamente traquejado na arte, chega a um distante povoado dos rincões nordestinos, depois de percorrer estradas esburacadas, subindo e descendo no solavanco do veículo, ao seu destino. Residência humilde daquele sofrido agricultor familiar.
Foguete estourando, "jingle" do candidato a todo volume no som do carro, distribuição de bolas a criançada - aquelas que o Armazém Paraíba distribui no Natal -, e o nosso ZÉ DE TOIM, anfitrião, braço no pescoço do visitante, demonstrando aos vizinhos o seu prestígio e intimidade com o tão ilustre político de grande prestígio no cenário brasileiro.
Formalidades cumpridas, cafezinho servido a comitiva e presentes, o ZÉ DE TOIM comunica que a Maria "descansou". Foi aquele alvoroço. Era gente pulando a janela, caindo, correndo, todos pensando que ela tinha morrido pela COVID-19.
Depois de muito pelejar, já todo mundo no terreiro, é que vieram a entender que Mariinha tinha era "parido". Aí começou a festa. Lá pelas tantas ZÉ DE TOIM pede uma conversa em particular com o candidato Zaqueu Júnior e expõe o seu pedido. Queria que ele fosse o "padim" do filho recém-nascido, o que, de pronto, foi aceito. A partir daí o tratamento mudou, era só "cumpade" pra cá, "cumpade" pra lá.
Nesse momento, o candidato lembrou de, ainda muito jovem, quando assessorou seu pai - Dr. Zaqueu -na campanha para reeleição nos anos 60. Fato igual acontecera com o PEDRO DA AURORA (Aurora era a mãe) que, em certa ocasião, pediu que o candidato trouxesse o Presidente Kennedy (John Fitzgerald Kennedy) e esposa para apadrinhar o seu filho. Sem titubear e de pronto, abraçando o PEDIM, disse:
- É só isso que você quer?
Passados uns 30 dias, aquele, o velho político - Deputado Zaqueu, empreende nova ida à região de PEDIM. Antes de iniciar a viagem, lembrou da promessa que fizera. Rapidamente rascunhou uma correspondência, selou e lá se foi para novo encontro.
PEDIM morava antes do povoado e, ao se aproximar da residência, o candidato lembra da missiva.
- Olha, tenho que passar na casa do PEDIM. Ordem dada, ordem cumprida.
Ao descer do veículo, foi logo entregando a carta ao PEDIM:
- Olha aí PEDIM o "homem" respondeu.
- Aceitou o convite?
- Lê a carta.
- Eu não leio doutor, lê mesmo o senhor.
- Bom, se é assim, me dê:
- Prezado amigo Pedim da Aurora, recebo com muita humildade e fico muito lisonjeado pelo convite para ser padrinho do seu filho. Mas, você sabe, como Presidente de um grande País, não posso me ausentar e nomeio o meu amigo DR. ZAQUEU - Deputado para pegar na procuração e me representar.
Qualquer dia apareço por aí.
Jacqueline manda lembranças.
Foi muita alegria. Iria ser "cumpade" do Presidente dos Estados Unidos.
Batizado realizado, menino já crescido, eis que PEDIM toma conhecimento da morte do "cumpade" e corre para a casa.
- Toinha, tu não sabes que desgraça aconteceu, mataram o “cumpade” Kennedy.
Toinha não se controla e cai no choro soluçando. Pedim, já com pena dela, começa a consolá-la:
- Toinha é a vida.
A esposa, entrecortando o soluço, responde:
- Pedim, eu só fico pensando como estará, a essas horas, a "cumade" Jacqueline.
Essa é a realidade de grande parte dos políticos brasileiros. Enganadores de sonhos.
O batizado do filho de ZÉ DE TOIM ficou marcado para depois da eleição. Aí é outra "estória".
*Benedito Amônico - OEIRENSE