
O valentão de araque

(*) Benedito Amônico
Sinto a maior preocupação quando resolvo pôr no papel (agora no computador)estórias engraçadas de Oeiras, que cresci ouvindo. Como tem gente que gosta, sobretudo conterrâneos, estou sempre arriscando contar uma. Sobre esta que ora inicio, antecipo uma explicação de que é tudo brincadeira e não gozação. É sobre coisas que muita gente de fora fica impressionado que tenham ocorrido. Lendo comentários nos portais da cidade outro dia, vi alguns internautas falando na quantidade de oeirenses de nome Joaquim. Falaram em vários, mas esqueceram de citar dois. Um que ficou famoso, Joaquim Lopes, por ser dono de um boi valente que vaqueiro nenhum conseguia laçar e prender. Tanto que era comum ouvir-se, quando aparecia algum brigão, que o tipo era mais valente que o boi de Joaquim Lopes . Isso encorajou-me a contar outra com mais um Joaquim, só que de fora , mas lá ocorrida.
É a de um caminhoneiro, boêmio e mulherengo, que resolveu pernoitar na cidade, vindo ninguém sabe de onde. Como não podia deixar de ser, depois de informar-se direitinho, foi bater no famoso “Cabaré de Ciço Cego”. Só que o cabra era tão egoísta que resolveu ocupar sozinho o ambiente, naturalmente rodeado das mulheres . Colocou seu ajudante na porta pra avisar que a entrada ali naquela noite estava proibida. Foi um deus-nos-acuda para os diaristas frequentadores , como Pedro Raposo, Mosquitinho, Mago-Veio, Mané ganchim, Raimundo de Toinha, Chiquinho Dandão, Caruba (Espedito de Mané Leite) e outros. Só deixou que adentrassem o salão de festas (naquela noite era o baile do azul e branco) o conjunto: Pedro Birrada com sua “pé-de-bode” (sanfoninha de oito baixos), Antônio de Toinha no pandeiro, e Alexandre Macaco no zabumba com o pratinho.
A turma proibida de entrar ficou no sereno, como se costuma dizer, pensando que fazer. Voltar pra casa é que ninguém admitia. Foi aí que Pedro Raposo apontou a saída, logo aprovada por todos. Só um amigo valente poderia resolver aquela situação e essa pessoa era Chico Sá, boa-praça, que com duas na cabeça ninguém segurava. Saíram a procurá-lo nas mesas de pano-verde até darem com ele num barzinho que funcionava no térreo do sobrado-velho, hoje sede da prefeitura, perdendo no Pif-Paf. Os “perus” recém-chegados aproveitaram um pequeno intervalo para distribuição das cartas e narraram tudo pra Chico que, àquela altura, como não ganhara uma, já estava fulo da vida. Pediu aos parceiros do jogo pra retirar-se e dirigiu-se, com a “turma do sereno”, para o velho cabaré. Lá chegando, Ignorou o “porteiro” e foi direto para o balcão pedir uma a Ciço Cego.
Nem chego u a tomar. Sentiu um toque no ombro e virou-se dando de cara com o “dono da noite”, que foi logo dizendo que fechara o estabelecimento só pra ele. Chico aberturou-o e foi logo perguntando quem era ele, que disse tratar-se de Joaquim Segunda-Feira. Quase não termina de falar. Levou o soco tão forte que foi parar na calçada, não sem antes ouvir: “e eu sou o resto da semana!”
(*) Benedito Amônico é bancário aposentado.