
Opinião- SINAL AMARELO: minha aldeia está crescendo!

*Jota Jota Sousa
Perguntarão: Por que é amarelo o sinal, se esta cresce? Não seria no mínimo razoável dizer que o sinal é verde? E eu, muito embora triste respondo: Sinto que minha aldeia cresce porque vejo quase que diariamente nossos jovens deixando prematuramente suas vidas esfaceladas no asfalto em sucessivos acidentes. E já aceitamos receber noticias destes funestos acontecimentos com certa naturalidade. Já não nos espantamos. Já não nos comovemos. Aceitamos o alto índice de mortes que poderiam perfeitamente ser evitadas como se nossa aldeia fosse uma megametrópole. Minha aldeia já não se importa com seus jovens.
Sinto que minha aldeia cresce porque vejo pelos corredores dos hospitais e clínicas uma gente desesperada, mendigando, pedindo o que lhes é de direito. Cada olhar meu Deus! Cada sofrimento! É! Minha aldeia está crescendo... Tornando-se a cada dia que passa, sem alma, sem epiderme, sem indulgência.
Minha aldeia cresce, pois já não bastasse a estirpe de políticos malditos, filhos omissos e desumanos, percebo agora que os cidadãos simples dessa aldeia estar a perder a amizade, a solidariedade, a cumplicidade que por tempos foi uma espécie de marca registrada. Cresce minha aldeia, porque inauguramos de vez a sórdida máxima do “cada um por si!” “Da farinha pouca, meu pirão primeiro!” Por que aqui se sonha com o poder, não para tê-lo como ferramenta em prol do bem comum, mas tão somente para saquear o povo, para perseguir, para espezinhar, para desempregar e levar desespero aos lares.
Minha aldeia cresce, porque o rancor partidário é mais facilmente perpetuado que as lições de liberdade. Porque nela, o jovem ainda constrói seu voto a partir do eterno curvar-se de seus pais aos atavismos dos novos coronéis.
Eis a minha aldeia, com suas meninas de doze, treze, quatorze anos grávidas, seus meninos drogados, seus jovens desempregados, pais de famílias sem esperança, o assédio sexual, o assédio moral, e agora mais esta: rumores de troca de favores, de cargos não apenas por votos mas por sexo.
Toda aldeia que cresce não pode se dar ao luxo de não mandar para a sua periferia uma legião de homens e mulheres invisíveis. Que sofrerão por falta de educação, de saúde, de perspectivas e até de sonhos. Que em outubro serão chamados mais uma vez para votar e assim endossar nomes da estirpe de políticos malditos, dos filhos omissos e desumanos como descritos a cima.
O que é uma aldeia sem fome?
Semana passada, chegou-me a notícia de que uma mulher num recanto distante dessa aldeia, sem alternativas outras, diariamente, pisa milho num rudimentar pilão, do xerém faz uma espécie de mingau para alimentar seus pequenos.
É! Minha aldeia está crescendo!