
Paixão leviana

Quando a paz do carinho dele faz seu coração ficar irrequieto, naquele instante todos os cantores de músicas românticas parecem cantar para você. Vitimado pela sensibilidade aguda, quase uma patologia, a presença dessa pessoa sequestra todas as suas palavras e suas ações ficam tímidas ao ponto de esconder-se pelas quinas das paredes. Que sentimento sorrateiro, deixa você imbecilmente lindo, lhe faz chorar com qualquer beijo de novela e achar que todos os poemas foram feitos para descrever o que deveras sente.
A paixão é um leviano sentimento que nos confunde, que nos faz refém de cheiros e sabores, nos fazendo regredir a idade mesmo querendo que tudo seja eterno. Tem dia que o que mais queremos é um “oi”, um “olá” talvez, ou apenas um sorriso desses de canto de boca. A paixão tem o poder de fazer o nosso olhar repousar sobre os olhos da pessoa em questão e por alí adormece no mais profundo dos sonos até ser alertado pela sirene da sensatez.
Que sentimento infantil e cheio de vontades! Porém, sempre caímos em suas armadilhas e fazemos todos os seus gostos. “Não vou ligar”, “não vou passar mensagem”, “vou me fazer de forte” ... Nada disso! Tudo ao contrário... E depois bate um tremendo arrependimento, seguido daquele sorriso intimista que atesta... Valeu a pena! Mas com a garantia de não fazer mais aquilo. Bobagem! Essa história vai se repetir por tantas outras vezes, não adianta se repreender.
A paixão nos torna fraco, sobretudo quando estamos sobre a licença poética de Baco, e vem àquela coragem jamais vista no mundo. Nesse instante você liga e diz tudo e mais um pouco... No outro dia além da debilidade física, aquela tremenda ressaca moral... Que sentimento inconveniente não lhe poupa sequer de suas fragilidades.
Descobri um dia que estava apaixonado quando dei por mim que já escutava certa música pela milésima vez. O pior, é que ela me descrevia perfeitamente. Tentei fugir e me medicar desse sentimento atroz, mas já era tarde demais. Restou a mim a máxima do poeta: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Duraram alguns dias, algumas noites, alguns telefonemas até que virou rotina e cada um foi pra seu lado.
A paixão tem lá sua validade, mas é um sentimento danado de se domar, visto que é arredio, desaforado e debochado, faz de você um boneco mambembe. A solução é esperar que ele passe no compasso de um coração leviano.
Junior Vianna