Geral
Páscoa, liberdade, mudança.
Por: Giselle Silva em 13/04/2009 - 01:03
Páscoa: do hebreu Pessach, significa a passagem da escravidão para a liberdade. Para cristãos, passagem da morte para a vida: tempo de abandonar velhos hábitos, libertar-se de pensamentos pré concebidos, buscar um sentido real e viável para a vida. 12 de abril de 2009. Talvez seja este o momento de estabelecer novos propósitos e renascer para uma vida mais livre!
Domingo de Páscoa é último momento da Semana Santa. Oeiras recebeu a visita de praticamente todos os fihos que visitam a cidade nesta época do ano. Desde a procissão do Bom Jesus dos Passos a cidade já estava lotada. Foram mais de 20 mil pessoas acompanhando a procissão do dia 3 de abril e todas as celebrações e rituais acompanhados por multidões de fieis.
A Procissão do Fogaréu, lindÃssima, foi bastante prestigiada. O centro histórico se iluminou numa cor especial pela presença da lua cheia. O número excessivo de vendedores ambulantes, vendedores das tradicionais lamparinas de lâmpada (lindÃssimas, por sinal), barracas de lanches e comidas tÃpicas instaladas em frente ao adro da Matriz e por toda a Praça das Vitórias faziam lembrar o momento de ira de Jesus Cristo em frente ao templo. A quem estava de fora, observando, sentado à beira das calçadas que circundam a praça, vendo de longe sem observar o som, o cenário era lindo. A encenação, entretanto, contraditória e grotesca. O discurso vibrante e comprometido com as causas sociais da igreja, os gritos das crianças jogando na praça, o re-encontro festivo dos primos e parentes... Tudo aquilo parecia, para alguns, cenas de Federico Felini misturadas aos textos do rebelde Federico Andahazi. Contradições e coisas de Oeiras!
Por outro lado, é necessário avaliar por que o aspecto profano tem se introduzido de forma bastante enfática em meio às fortes tradições religiosas. A cidade, que se orgulha das fortes tradições católicas e o momento de reflexão e consternação vem, a cada ano, misturando os velhos anúncios em carros de som às alturas, os bares e inaugurações festivas e, de forma agressiva, descaracterizando a tradição religiosa que tem vendido a imagem da Capital da Fé por tantos anos.
É natural que os comerciantes do setor diversões, hotelaria e alimentação aproveitem a melhor oportunidade de venda em volume no ano inteiro. Afinal, é o momento de maior fluxo de visitantes e turistas na cidade. É aceitável também que nem todos sintam vontade, necessidade nem prazer em se recolher para trabalhar em si as mudanças e passagens propostas pelo cristianismo.
Nesta Semana Santa de 2009, parques de diversão (esses já tradição de anos), circos, shows, inaugurações de bares e locais de eventos se misturaram com os festejos religiosos. Programação cultural e festiva podem ser desenvolvidas para oferecer momentos de descontração e lazer, além dos momentos de reflexão e oração. Certamente muitos discordarão deste posicionamento que é meramente técnico e isento de fanatismos religiosos. Entretanto, é necessário avaliar na hora de se desenvolver o turismo. Há opções de shows culturais, canto, artes visuais, artes cênicas e mesmo festas que se coadunam perfeitamente com o clima reflexivo de Semana Santa, seja para católicos, protestantes, budistas ou ateus. Há locais em todo o Brasil que, desde a quaresma até a festa do Divino EspÃrito Santo, se promovem festivais de canto, encenações teatrais inclusive várias de porte e grande peso turÃstico (como é o caso de Nova Jerusalém em Pernambuco, e dos centros de meditação e desenvolvimento espiritual da Chapada Diamantina e os retiros protestantes de várias congregações, hotéis à beira-mar por todo o litoral do nordeste...)
Isso pode ser avaliado tecnicamente de forma simples. A cidade de forte potencial turÃstico precisa se organizar para manter a oferta durante o calendário anual, de forma que os negócios que se sustentam com o turismo tenham momentos adequados para seus lançamentos, promoções e shows, de forma que se possa manter também as tradições religiosas que são – há séculos – a representação maior da Primeira Capital do PiauÃ. É mais que momento de se definir o calendário turÃstico de Oeiras: eventos religiosos, eventos profanos e festas barulhentas, festejos regionais, cada um tem público especÃfico e pode conviver harmonicamente, cada um no seu tempo.
O desenvolvimento organizado, setorizado e participativo do calendário turÃstico anual de Oeiras, divulgado em ampla mÃdia regional e nacional trará, certamente, melhores resultados financeiros aos seus investidores e a imagem da Cidade Colonial, de forte tradição religiosa, será importante elemento de mÃdia para chamar turistas e acolher os fihos da terra com mais conforto, estabilidade e resultado financeiro, além de geração de emprego e renda permanentes. Os católicos e cristãos poderão aproveitar melhor a parada anual de reflexão em busca da tão sonhada libertação.
O desespero pela mão de obra qualificada, abastecimento e organização setorial precisam ser estabilizados através de treinamento e formação profissional em receptivo, hotelaria e gastronomia. Cada setor tem caracterÃsticas próprias, necessidades especificas, dimensionamento adequado, receitas e despesas que precisam ser corretamente dimensionadas para se estabelecerem com segurança. Todo o receptivo, de hoteleira e oferta gastronômica precisa se organizar e se fortalecer como importante elemento de desenvolvimento para toda a região. Só organizado o setor crescerá de forma eficiente e eficaz. Devagarinho, com bom senso, sem fanatismo nem desespero, observando o potencial humano e criativo de cada um, Oeiras acontece.
Que fé renovada na Semana Santa dê a cada cristão e cada cidadão forças, e renove as esperanças e os desejos, e reafirme valores e convicções de amor, luz e luta pela liberdade de todos!
Josevita Tapety é Arquiteta e Urbanista