
Pela criação do Parque Ecológico do Morro da Cruz, Morro da Sociedade e Lago Azul

Por Rogério Newton
Sete de setembro de 2012 é uma data histórica para o movimento ecológico oeirense. Representantes de entidades e cidadãos organizados entregaram ao prefeito abaixo-assinado para deter agressão sem precedentes contra um dos símbolos naturais e culturais mais importantes da cidade. A petição pública, com 1.462 assinaturas, reivindica o embargo imediato das obras de loteamento do Morro da Cruz e do Lago Azul, devassados impiedosamente por tratores e pelo fogo.
A consciência ecológica coletiva em Oeiras não nasceu hoje. Antes de nós, outros oeirenses não se calaram, denunciando e reivindicando melhor atenção e cuidado para com as maravilhas naturais da cidade. Os pioneiros na formação de uma consciência ecológica cidadã foram o Prof. Possidônio Queiroz e o poeta Gaudêncio Carvalho, que, em 1971, bateram às portas do prefeito e postularam providências para o Riacho Mocha. Lamentavelmente, o alcaide não entendeu a grandeza do gesto e nada fez para defender o riacho, outro símbolo da cidade, cujas agressões estavam apenas começando.
Na década seguinte, em 1984, estudantes do Mafrense Clube e do Grupo Ipê, formados por oeirenses que estudavam em Teresina e Fortaleza, organizaram ato público, na escadaria do Passeio Leônidas Melo, com as presenças de parlamentares e autoridades, que empenharam a palavra em favor do Mocha. Findo o ato, nenhuma providência pública foi adotada. Tudo não passou de “retórica de palanque”, como uma delas definiu. Ficaram o entusiasmo e o exemplo cívico dos estudantes, que criaram o Movimento Popular em Defesa do Riacho Mocha.
Os estudantes deram o troco em 1985. Reunidos no Mafrense Clube, organizaram a Semana Nacional do Meio Ambiente, que teve lugar no auditório da Escola Normal, nos dias 6 a 9 de junho. A discussão ecológica, centrada no Riacho Mocha, foi apresentada sob viés científico, pois os conferencistas eram professores universitários e estudiosos. Parlamentares e autoridades foram convidados e se fizeram presentes. Mas nenhuma das propostas e sugestões oriundas das exposições dos especialistas e das manifestações de membros da comunidade foi acolhida pelos gestores ou parlamentares com assento nas casas legislativas municipal e estadual. As investidas contra o riacho prosseguiram, como se não houvesse um clamor público contra elas.
Em 2007, foi realizado o Fórum Sócio-Ambiental de Oeiras, o mais amplo, abrangente e continuado debate público sobre o tema, com participação maciça de estudantes locais e cooperação técnico-científica da UFPI. Apesar da mobilização pública e das recomendações do Encontro, os danos ecológicos continuam a ser praticados contra o Mocha, cujo leito e margens, protegidos pelo Código Florestal, legislação sobre águas e Lei Orgânica do Município, são continuamente devassados para construção de obras públicas e privadas, que deveriam ser erguidas em locais adequados, para não sacrificar o ecossistema do riacho, permanentemente exposto a variados tipos de danos. Neste ano, olho d’água na margem esquerda, próximo ao Buringa, foi soterrado para um morador passar com o carro para a garagem de sua casa, que faz parte do arruamento cinza que se formou ali, a poucos metros da galeria, suprimindo o que restava de cobertura vegetal. Dezenas de esgotos, sem tratamento, escoam para o leito. Até mesmo a água, de coloração verde escura, que sai da Lagoa de Tratamento, vai direto para o riacho. Um morador do povoado Coqueiro, a jusante da Lagoa, disse que, no inverno, ninguém mais de sua comunidade pesca ou toma banho no Mocha.
Agora, em 2012, outra agressão ecológica deixa todos estarrecidos. Desta vez, o alvo é um dos morros que circundam a cidade. Área de encosta, protegida pelo Código Florestal e pela Lei Orgânica do Município, foi impiedosamente degradada. Como das vezes anteriores, a comunidade clama por providências, para restituir ao Morro da Cruz e ao Lago Azul a beleza profanada.
Em verdade, a profanação do Morro da Cruz e do Lago Azul é a “ponta de iceberg” de algo maior. A cidade cresce de forma desordenada, sem zoneamento urbano, sem plano diretor. Nessa expansão, os mais sacrificados são as áreas verdes e o patrimônio histórico da cidade, indissociável do patrimônio natural. Não sei se é possível falar em áreas verdes públicas, pois estas são quase inexistentes. Até mesmo o Parque de Lazer Paulinho Menezes, em termos de meio ambiente urbano, talvez a única iniciativa pública digna de elogio, parece ter sucumbido.
A degradação do Morro da Cruz é a gota d’água que fez transbordar o copo das agressões contra as belezas naturais existentes no perímetro urbano e nos arredores da cidade. E da falta absoluta de critérios lógicos e racionais que deveriam nortear a utilização dessas maravilhas.
Desde 1971, questões como estas são apresentadas para a esfera pública. Mas há esperanças. O movimento ecológico ressurge com entusiasmo. Na audiência em que recebeu os organizadores do abaixo-assinado, o prefeito do município foi receptivo às reivindicações. Esperamos que ele passe para a história, não como alguém que lançou a última pá de cal, mas como o homem que ajudou a salvar o Morro da Cruz e o Lago Azul e a transformá-los em parque ecológico municipal para desfrute de todos os oeirenses e dos que visitam a cidade, atraídos por sua beleza e por sua história.