
Quando a máquina apita: IA e os novos rumos da arbitragem esportiva
17/06/2025 - 13:21Por Aline Gonçalves Jatahy
Sou muito orgulhoso. Não há o que negar. Ainda mais hoje em dia, que ganhei ares de sofisticação e imponência com os enchimentos, as meias-taças, toda sorte de coloridos e estampas, bicos, rendas e arrebiques. Não me olhem com antipatia. O bom convencimento às vezes é ferramenta de autoestima necessária ao adequado desempenho de nossas atribuições.
Na verdade, sei da minha importância. Desde cedo, quando a futura mamãe começa a adentrar-se nos caminhos da vida adulta, já sou requisitado a fim de fornecer abrigo, sustentação, proteção em forma de envoltório a uma das partes do corpo que lhe conferem uma singularidade feminina e a divina potencialidade da lactância. Há até um jargão de que “o primeiro a gente nunca esquece”.
É certo que entrei no mundo da moda, das passarelas, das joias, pois até com pedras preciosas já fui adornado. Porém a minha declarada vaidade tem outros motivos, cuja valoração me é bem mais significativa. A minha localização, quando em uso, é extremamente privilegiada. Por causa dela, tenho como vizinho, um amigo, grande aliado, quase um mentor dos nossos sentimentos: o coração das mamães.
Impossível não acompanhar o seu ritmo. Verdade seja dita que no início cheguei mesmo a pensar que não iria me acostumar com aquele tum-taá /tum-taá ininterrupto e ensurdecedor, mas fui logo entendendo que era disso que dependia o funcionamento de todo o corpo, a própria vida. O cara era mesmo importante, estão que remédio, o jeito foi fazer depressa amizade e tratar de me habituar ao seu cantarolar de maestro.
Assim percebi que tudo girava em torno daquele barulho e suas nuances. Um ritmo ora mais lento, ora mais acelerado, ou subitamente com velocidade total, nos punha a todos em alerta máximo de que algo de grande impacto estava a acontecer. E em conjunto com ele passamos a fazer parte de uma denominação carinhosa e propalada em versos e canções, conhecida como “peito de mãe”. Envolvi-me na sensação do verdadeiro espírito de equipe.
Lugar onde repousam as mais macias e cheirosas cabecinhas (é certo que nem sempre tão cheirosas), onde embaladas pelo conhecido som da época intrauterina, resvalam-se em cochilos e dengos pueris. Lugar que assume a rotina de uma verdadeira fábrica, em que todos trabalham num pique de alta demanda na época da amamentação, a fim de suprir e prover a alimentação da sua prole de pequenos mamíferos. E aqui, um parêntese: também precisei adaptar-me a ser encharcado de leite e trabalhar no pesado em todos os sentidos.
Lugar em que todos ficamos “apertados” diante das tantas emoções: o crescimento dos filhos, suas conquistas compartilhadas, os dias de preocupação com as doenças, com as batalhas educacionais, com as vicissitudes do mundo. Os medos, a apreensão com o futuro, as inquietações de quem (só as mães) tem habilidade pra calcular, perscrutar, prever, adivinhar tudo e qualquer coisa, já que quase nada escapa aos seus instintos maternais.
Rotina? Não conhecemos o significado dessa palavra. A cada dia, são novos anseios e imperativos e pormenores. Apreendemos o ritmo: não parar nunca, ser sempre presente e essencial à sobrevivência. Tem como eu não arguir-me do tal convencimento?
Sinto-me da família, peça de estima, com méritos de amigo íntimo. Antes ainda cheguei a ser aquele algo necessário, mas que precisava trabalhar nos bastidores. Agora, também entrei no rol dos objetos que além de toda a sua real utilidade, ainda são tidos como artifícios ostentadores da condecoração de beleza e elegância que se quer conferir às mamães. É preciso dizer mais?
Mas para que não reste qualquer tipo de “olho gordo” após tudo que relatei, lembremos que em “peito de mãe” sempre cabe mais um...
PARABÉNS MAMÃES!