
Quando a máquina apita: IA e os novos rumos da arbitragem esportiva
17/06/2025 - 13:21Por Aline Gonçalves Jatahy
* Por Ana Regina Rêgo
Quando uma luz de apaga fica a saudade. Dominguinhos se foi! Comoção pública manifesta pelas redes sociais, sobretudo, onde todos postam homenagens e músicas. Dominguinhos se foi, mas o momento não é tão somente de tristeza pela ausência; contudo, e, principalmente, de identificação. Não sou especialista em Dominguinhos, pois assim como grande parte do povo brasileiro, eu sou apenas uma fã que conhece suas músicas e as canta com frequência porque fazem parte da minha história, como da história de cada um de nós.
Dominguinhos se foi, mas ficou De volta pro meu aconchego eternizada por várias vozes, inclusive, pela voz do autor; contudo, para além dessa música especial, outras tantas, também tão especiais saíram da memória e vieram rapidamente a minha mente. Enquanto pensava em como escrever para a coluna em meio à emoção da partida do grande mestre da sanfona, representante genuíno da cultura nordestina e herdeiro de Gonzaga; procurei entre milhares de páginas na internet que falam sobre o compositor, cantor e músico, assim como, sobre suas músicas e encontrei um site com mais de 300 músicas com letras, melodias e cifras. Comecei a ler os nomes das músicas e percebi que conhecia a maioria, se não, todas. Incrível como a obra de Dominguinhos é tão grande como a de Gonzaga e é claro,inclui tanto composições suas, como de outros músicos e parceiros com os quais trabalhou ao longo da jornada iniciada antes dos 18 anos de idade quando se tornou companheiro do Rei do Baião.
Ouvi durante muito tempo, os músicos com os quais convivo há mais de vinte anos chamarem Dominguinhos de mestre com muito respeito e reverência. E peço licença a meus cinco leitores para contar uma historinha. Em 2003, Júlio Medeiros, baixista piauiense, lançou o CD Pro Seu Domingoscom músicas suas e de Dominguinhos, estas com novos arranjos e na ocasião Glauco Luz fez uma composição que foi interpretada por João Cláudio e que contém a seguinte afirmação: Pra mim Dominguinhos é Jobim. Essa música que consta do cd acima mencionado foi tocada para o Dominguinhos com ele no palco participando do show de lançamento do disco realizado em novembro de 2003 no Clube de Engenharia em Teresina. Show do qual participaram não só Júlio Medeiros e banda, como João Cláudio, Maria da Inglaterra que fez dueto com Dominguinhos, Lázaro do Piauí e muitos outros. Dominguinhos ficou no palco até as cinco das manhãs. Mas essa foi apenas uma das inúmeras vezes em que a sanfona do mestre alegrou o público piauiense, já que por aqui esteve milhares de vezes.
Falo desse evento em particular por dois motivos, o primeiro, porque o músico foi gentil e generoso ao virtocar no lançamento do cd em sua homenagem, e depois porque ontem logo após a notícia da morte e ao ler algumas das milhares de homenagens na internet, vi também algumas indignações que se referiam a uma fala particular de um especialista que se referiu a Dominguinhos como o Jobim do nordeste, e, por este motivo, havia algumas pessoas indignadas e agressivas, como se a comparação diminuísse o nosso sanfoneiro. Nesse contexto e para além das polêmicas partilho não só opinião de Glauco Luz e dos músicos, mas da emoção e leveza da música e para mim Dominguinhos é Jobim, não porque sua música seja menor, ao contrário, principalmente, porque a emoção que me traz a música de Dominguinhos, se iguala ao sentimento que me transmite a música de Jobim. Só isso! Nem menor, nem maior. Nem preconceito, nem diminuição de valor. Apenas reconhecimento.
E falando sobre as várias obras primas de Dominguinhos, cada um de nós, possui uma que é mais especial. Para mim Contrato de Separação que o compositor fez em parceria com Anastásia é a mais profunda e me toca porque fala de um contrato de separação com a saudade que o consumia. Ouvi a história da composição em uma roda de poucos músicos após um ensaio, ouvi de sua voz doce e macia.
Mas não é só o músico que me fascinava e que despertava um grande respeito. Era também o ser humano que ele demonstrava ser nos gestos mais simples. Estive poucas vezes com Dominguinhos, sempre em shows promovidos pelo Napoleãozinho Azevedo, Júlio Medeiros, Zé Dantas e outros amigos, mas nas vezes em que estive com ele fiquei encantada com sua calma e seus modos simples e gentis. Nunca exigiu nada de especial, nenhuma regalia. Tratava os músicos igualmente e não gostava de se destacar a frente dos demais. O show, muitas vezes montado com músicos de Teresina, era sempre uma festa com raríssimos momentos de tensão. Quando tocou e cantou ao lado da Maria da Inglaterra em novembro de 2003, tratou-a com muito respeito e brincou no palco enquanto os dois faziam um dueto.
Assim,foi que diante da notícia da partida de Dominguinhos ontem, presenciei uma cena inusitada em casa: _ uma discreta lágrima rolou do canto do olho do músico; e enquanto eu e, outros tantos, corriam para as redes sociais para se manifestar, o músico de casa, chorou em silêncio, pegou seu violão e foi tocar Dominguinhos para uma lua espetacularmente grande e bela.
Hoje finalizo, meus poucos leitores com a letra de Contrato de Separação porque a saudade de Dominguinhos vai ficar em todos nós.
Contrato de Separação( Dominguinhos e Anastácia)
Olha, essa saudade
Que maltrata o meu peito
É ilusão
E por ser ilusão é mais difícil de apagar
Ela vai me consumindo lentamente
Ela brinca com meu peito
E leva sempre a melhor
Eu quis fazer com ela um contrato de separação
Negou-se, então, a aceitar
Sorrindo da minha ilusão
Só tem um jeito agora
É tentar de vez me libertar
Brigar com a lembrança
Pra não mais lembrar
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* Ana Regina Rêgo - Phd em Comunicação Corporativa. Mestre em Comunicação e Cultura. Jornalista. Consultora. CoordenadoraPPGCOM-UFPI. Email: ana.rani@uol.com.br