
Quaresma: um caminho para a vida

* Por Pe. Francisco Barbosa
Atendendo ao convite da Igreja Católica Apostólica, com sede em Roma, estamos iniciando o Tempo da Quaresma. É um tempo de graça: “momento favorável, dia da salvação”. – 2Cor 6,2b - porque nos permite entrar em contato com o Mistério. Tempo de graça porque possibilita-nos, enquanto cristãos e cristãs, estar revendo nossas posturas, gestos, atitudes etc. a fim de que a graça de Deus seja sempre mais plena em todos nós.
Meu irmão, minha irmã, gostaria de estar refletindo com você a partir de três breves tópicos, inspirado na Liturgia da Palavra da Quarta-Feira de Cinzas, com a qual iniciamos esse tempo.
1º - Quaresma: um caminho que nos orienta para a caridade - a esmola:
A Quaresma é um caminho que põem-nos na trilha da caridade, através da esmola – Mt 6,2-4. Esmola aqui não é sinônimo de estar doando aquilo que sobra ou que talvez esteja causando um incômodo e então tenho que desfazer-me, mas o abrir generosamente o coração e as mãos àqueles que pedem a minha ajuda, solicitam o meu auxílio.
Às vezes podemos até constatar que somos pessoas com um coração generoso, quando assunto é doar coisas, mas pode ser que estejamos sendo pouco dados à escuta, à tolerância, a assumir uma atitude de paciência diante do corre-corre frenético do nosso cotidiano. Então, que tal nesse tempo, estarmos revendo também a nossa capacidade de escutar, de sermos mais tolerantes, mais pacientes com os nossos irmãos e irmãs? Afinal, na quaresma, sou chamado a doar não tão somente coisas materiais, mas todo o meu ser.
2º Quaresma: um caminho que nos orienta para o – a oração:
A Quaresma é também tempo para estarmos revendo a nossa Oração – Mt 6,5-6 - esse verbete sobre o qual, assim como outros, tanto já se escreveu, se refletiu.
Como orar em um mundo marcado pela palavra, pelo barulho? Como dar tempo ao Mistério? Para falar devo, em primeiro lugar, assumir a atitude do ouvinte: paro e, como atenção, ponho-me a escutar.
Quaresma é tempo para silenciar. Já os antigos diziam algo que continua atual, se de fato queremos entrar em oração: Tibit silentium laus. (Para Ti o silêncio é louvor.) Procuremos ficar em silêncio. Que tal iniciar com 15 minutos a cada dia? Se você já tem o hábito de fazê-lo, muito bem! Quando formos à missa, procuremos chegar mais cedo e ali, sentados, procuremos deixar silenciar a mente, o coração, respirando devagar para sentir o Mistério que como prova de amor inconteste deu-nos o seu filho que por nós doou a própria vida. Se estas práticas já estão presente em sua vida espiritual, melhor ainda!
3º - Quaresma: um caminho de volta ao nosso interior - o jejum:
O evangelho que escutamos na celebração da Quarta-Feira de Cinzas fala também do jejum – Mt 6,16-18. O jejum possibilita esse encontro mais pessoal com o nosso eu, põem-nos frente a frente com os nossos limites, com a nossa pretensa capacidade física, com a nossa fortaleza.
Lembrando que o jejum é não só do alimento, mas pode ser também do conter-se no falar, no deixar de comprar algo, no deixar de assistir aquela novela predileta, de beber aquela bebida preferida etc.
Esse privar-se de algo não para testar a nossa resistência – tentando provar para Deus o quanto somos fortes e determinados - mas para sentir, experimentar a graça de Deus em nossas vidas. Para, com o apóstolo, reafirmar: “Quando sou fraco, então é que sou forte”( 2Cor 12,10).
Lembremo-nos ainda de que no mundo bíblico a simbólica do número quarenta, do qual o verbete Quaresma se origina, quer apontar para toda a nossa vida, a nossa existência: uma missão que não tem fim; uma tarefa para ser assumida dia após dia. Procurando superar toda e qualquer forma de viver a religião superficialmente, “maquiada” por atitudes que nos mantêm, volta e meia, na superfície da fé, porque sem buscar a conversão do nosso coração – Jl 2,13.
Irmãos e irmãs, estamos diante de um caminho para a vida. Não queremos olhar esse tempo como sendo um tempo com início e fim – isso seria correr o risco de estarmos apenas “cumprindo o protocolo da fé” - mas verdadeiramente como um tempo que vem para capacitar o nosso coração a fim de que o mesmo assuma a conversão com um projeto de vida que vai se renovando a cada dia da nossa existência: redimensionando a nossa relação com a Palavra, orientados pelo Espírito d’Aquele que em Cristo venceu a morte – Sl 50,13-14.
*Pe. Francisco Barbosa, presbítero da Diocese de Oeiras-PI, Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Simplício Mendes-PI, Quaresma 2012, e-mail: pebarbosa1965@bol.com.br