
Senhor Bom Jesus dos Passos, dos vossos romeiros tende piedade!

*Por Sânia Mary Mesquita
"Caminheiros que passais por este caminho, parai um pouquinho e olhai, por favor, se neste mundo existe uma dor assim tão grande como a dor de minha dor." Assim canta a Verônica, oeirensemente denominada Maria Beú, a cada parada da Procissão do Bom Jesus dos Passos.
O caminho permanece, a dor é lacerante, porém os caminheiros já pararam há alguns dias, mediante o chamamento pela vida: Fique em casa! É o verso que ecoa pelas ruas e pelos becos, e reverbera do Largo do Rosário à Praça das Vitórias: Fique em casa!
Ao entardecer não teremos uma praça tomada de pernas de crianças nem do roxo dos romeiros. Mas ela estará preenchida por nossas orações e clamores: Misericórdia, Senhor! E engana-se quem achar que a Mãe das Dores não vem ao encontro daqueles que sofrem. Sem Sermão, sem procissão, sem andor, a Virgem Dolorosíssima está ainda mais presente em cada casa, em cada família que roga: Mãe de Deus, derramai sobre a humanidade inteira as graças eficazes da vossa chama de amor agora e na hora de nossa morte. Amém.
Há exatamente uma semana o Papa Francisco realizou uma oração aparentemente solitária na Praça São Pedro, mas plenificada pelos lamentos e pelo luto que tem desolado milhares de famílias na Itália, no Brasil e no mundo inteiro. Do oriente ao ocidente, por onde tem passado a Síndrome Gripal tem varrido e devastado as pessoas. Certezas desmoronadas, planos reformulados, países têm sido transformados.
É um forte convite à conversão. O canto da Verônica foi ouvido: "parai um pouquinho, e olhai, por favor". É o chamado que nos é feito incessantemente a partir da covid-19: parai, olhai para as dores do outro, para suas incertezas, olhai para toda vida humana, animal ou vegetal, para nossa Casa Comum, o planeta agredido e ferido todos os dias pela ganância desenfreada do ter mais, do poder e do prazer a qualquer custo.
É a humanidade sendo sacudida a ser humana, assim como Deus se fez humano para carregar nossas cruzes. Sem procissões, sem andores, sem imagens, do fundo do nosso ser brota a esperança em uma renovação de agir. E de nossas casas, templos domésticos, elevaremos nossas orações aos céus, e que elas sejam agradáveis a Deus, subam com o doce olor de alecrim: Misericórdia, Senhor! Tende piedade de nós, miseráveis pecadores! Meu Bom Jesus dos Passos, valei-nos nas nossas aflições e necessidades. Assim seja.
*Sânia Mary Mesquita
Oeiras, 03 de abril de 2020, Sexta-feira de Passos.