Em entrevista, Emanuel Vital fala sobre o Dia da Consciência Negra e o legado de ‘’Negras e Negros do Rosário’’
19/11/2024 - 19:48Emanuel Vital é professor, jornalista, ambientalista e negro do Rosário.
Da Redação-Mural da Vila
Uma palavra, uma atenção maior e apoio são alguns dos fatores que podem ajudar uma pessoa que pensa em suicídio. Para falar sobre o tema, o Mural da Vila conversou com a pedagoga Evanilde Borges, coordenadora do Núcleo de Prevenção ao Suicídio de Oeiras e Suely Viana, enfermeira e coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial CAPS I / OEIRAS.
O Núcleo de Prevenção ao Suicídio é um trabalho realizado em parceria com a Estratégia de Saúde da Família (ESF), Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), onde trabalhamos ações de educação em saúde, acolhimento à pessoa em sofrimento mental, ou acometida de transtorno mental, que apresenta comportamento suicida. "Realizamos visitas domiciliares para monitoramento dos casos, realizamos ainda visitas institucionais para busca ativa dos casos que dão entrada na UPA, matriciamento em saúde mental com ESF e o NASF", esclarecem.
Sobre o Setembro Amarelo, Evanilde Borges ressalta que a prevenção do Suicídio deve acontecer todos os dias, não só no mês de setembro, e que é uma luta de toda a sociedade. "Todos devemos abraçar essa causa, lutar pra que possamos minimizar os índices de suicídio, as tentativas e os danos causados por essa prática".
Confira a entrevista:
- Por que é tão relevante falar sobre prevenção do suicídio?
É relevante para se descontruir crenças errôneas que existem em torno do tema, que culminaram no tabu que não se pode falar que não se pode esclarecer esse fenômeno complexo, visto como um grave problema de saúde pública. Compartilhar informações ligadas ao tema pode ajudar a sociedade a desmitificar os estigmas e tabus em torno do suicídio, além de contribuir para o enfrentamento do mesmo.
- Apesar de todos os esforços de grupos da sociedade pelo diálogo em prol da difusão do assunto, com o objetivo de orientar beneficamente as pessoas, você acredita que o assunto ainda seja um tabu?
Sim, infelizmente, o comportamento suicida ainda é obscurecido pelos tabus, estigmas, vergonha e permeado pelo silêncio, o que impede as pessoas a buscarem ajuda dos serviços de saúde.
- Há uma barreira com relação ao tema, principalmente entre os veículos de imprensa, de que não se deve falar sobre suicídio, pois pode incentivar pessoas a o fazerem. Em alguns meios é até proibido publicar notícias com a temática do suicídio ou deve-se omitir a causa da morte. Como você avalia esse comportamento? Que abordagem seria mais adequada para se falar do tema?
A mídia pode ter um papel proativo na prevenção do suicídio, ao divulgar as seguintes informações junto com as notícias sobre suicídio:
- listas de serviços de saúde disponíveis, telefones e endereços de contato onde se possa obter ajuda (devidamente atualizados);
- listas com os sinais de alerta de comportamento suicida;
- esclarecimentos mostrando que o comportamento suicida frequentemente associa-se com a depressão, sendo que esta é uma condição tratável;
- demonstrações de empatia aos sobreviventes (familiares e amigos das vítimas) com relação ao seu luto, oferecendo números de telefone e endereços de grupos de apoio, se disponíveis. Isto aumenta a probabilidade de intervenção por parte de profissionais de saúde mental, amigos e família, em momentos de crises suicidas.
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, por ano, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio e que o Brasil é apontado como o oitavo país no mundo com mais ocorrências. A que se deve tal fato? Será que atualmente se fala mais sobre o assunto e, por consequência, tem maior visibilidade ou realmente esse número vem aumentando ao longo das décadas?
No Brasil não existe nenhum plano estratégico para redução do suicídio, embora em 2013 ele tenha firmado em conjunto com 20 países um compromisso de reduzir em 10% a taxa de suicídio até 2020, isso implica que não existe um plano nacional e orçamentário voltado para o enfrentamento ao suicídio.
- Existem, também, alguns mitos em relação ao comportamento suicida, como por exemplo, a ideia de que as pessoas que ficam ameaçando se matar não vão realmente cometer suicídio, ou “quem quer se matar se mata mesmo, sem ficar anunciando”. Com relação a esses “alertas”, quais são os sinais que a família ou as pessoas próximas devem observar para poder ajudar quem está na iminência de cometer um ato extremo?
As pessoas geralmente demonstram alguns sinais:
- Falam ou escrevem sobre morte ou suicídio;
- Apresentam sentimento de desespero e desesperança;
- Isolamento social;
- Sentimento de desamparo;
- Sentimento de raiva/fúria;
- Grandes mudanças de humor;
- Abuso de substancias psicoativa;
- Agir impulsivamente;
- Perda de interesse na maioria das atividades;
- Mudanças no padrão de comportamento;
- Mau desempenho no trabalho e/ou escola;
- Culpa excessiva ou vergonha;
A depressão é uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. Casos cotidianos de estresse, ambiente hostil, cobranças, metas e situações adversas contribuem para o surgimento de um quadro de negatividade, insatisfação, tristeza e ansiedade, que pode rapidamente evoluir para a doença. Como as instituições podem reverter a situação e construir um ambiente profissional saudável? Paralelo a isso, como os trabalhadores podem agir para cuidar da saúde mental, visto que a maioria sequer tem conhecimento do próprio adoecimento?
As constantes pressões por resultados cada vez melhores podem ter um efeito prejudicial tanto para as instituições quanto para o trabalhador. Os transtornos psicológicos já são a terceira maior causa dos afastamentos trabalhistas no Brasil e esses números só tendem a aumentar nas instituições que deixam de lado o aspecto humano dos seus colaboradores. As instituições devem buscar trabalhar na perspectiva de promover o bem estar e o equilíbrio emocional dos profissionais, como forma de aliviar o seu estresse no trabalho.
Dicas de saúde mental para diminuir o estresse do trabalho:
- Alivie seus pensamentos;
- Deixe de procrastinar;
- Realize atividade física;
- Melhore a qualidade de seus relacionamentos
- Dormir bem é fundamental;
- Estabeleça pequenos objetivos;
- Não guarde mágoa, perdoe;
- Busque autoconhecimento;
- Não reclame, agradeça;
- Desenvolva sua espiritualidade;
- Ame-se
- Há um público mais suscetível ao suicídio?
Sim, as pessoas com depressão, esquizofrenia, ou outras doenças mentais não tratadas, pessoas que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas são mais vulneráveis ao suicídio.
- Como lidar com alguém que já tentou o suicídio?
Além da escuta atenta e acolhedora dos serviços de saúde, é necessário a realização do manejo do caso e a articulação da rede de apoio da pessoa que apresenta comportamento suicida, como forma de garantir um suporte consistente. Buscar ajuda de quem pode estar próximo, que pode acompanhar de perto, que no nosso entendimento seria a famiíla, apoio imprescindível nessas situações, ou pessoas apontadas pelo paciente como importante no processo do cuidado.
- Quem mais comete o suicídio: homem ou mulher?
As mulheres tentam mais que os homens, porém os homens se matam mais, por estes usam métodos mais agressivos.
- Como é possível ajudar quando se percebe que está havendo ideação?
Através de uma abordagem acolhedora, calma, aberta, empática, de aceitação e de não julgamento, é fundamental para facilitar a comunicação. Conduzir a pessoa para um acompanhamento psicossocial, pois há necessidade de uma avaliação médica, de um tratamento psicológico e monitoramento dos serviços de saúde e principalmente da família.
- Como é o trabalho do Núcleo de Prevenção ao Suicídio e do CAPS I de Oeiras?
É um trabalho realizado em parceria com a Estratégia de Saúde da Família (ESF), Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), onde trabalhamos ações de educação em saúde, acolhimento à pessoa em sofrimento mental, ou acometida de transtorno mental, que apresenta comportamento suicida. Realizamos visitas domiciliares para monitoramento dos casos, realizamos ainda visitas institucionais para busca ativa dos casos que dão entrada na UPA, matriciamento em saúde mental com ESF e o NASF. .Em nossas ações oferecemos qualificação para os profissionais que atuam na Atenção Básica, considerando que estes profissionais que atuam na atenção primária, estão em posição privilegiada para avaliação da rede de proteção social das pessoas em risco de suicídio, e por estarem em contato mais próximo e duradouro com os pacientes, familiares e sua comunidade.
- Quais ações o Núcleo desenvolverá durante este mês de setembro?
Rodas de conversa nas UBS;
Palestra para adolescentes;
Programa de Rádio.
- Como fazer para ter acesso ao Núcleo?
O Núcleo de Prevenção ao Suicídio está inserido no CAPS que atua como uma das portas de entrada para os casos de tentativas de suicídio, bem como é um serviço destinado a acolher diversos tipos de transtornos mentais.
Suely Viana e Evanilde Borges