Sexta-feira de Passos: O dia mais oeirense do ano

*Por Júnior Vianna

Solitário o bronze do campanário da Catedral dobra no tempo e no espaço, tangendo para dentro dos nossos corações o som dolente do dia do Bom Jesus. Mas cadê o Cristo? O Senhor dos Passos este ano ficará resguardado no templo setecentista. Pela primeira vez o sacro cortejo não ocorrerá desde os idos oitocentistas. A tradição estertora em quarentena!

Ali na Matriz de Nossa Senhora da Vitória está o Bom Jesus, com seu semblante humano. Afetuoso é o seu olhar contemplativo que se perde diante as nossas orações: "dignai-vos, dai-me os socorros da vossa divina graça. Aos vivos e defuntos perdão e descanso; a vossa igreja, paz e concórdia; a nós pecadores, glória e vida eterna". Em tempos tão difíceis que paira sobre nós a incerteza, seja Bom Jesus o nosso auxílio e proteção.

Pelas ruas da Terra Santa do Piauí, o cheiro do alecrim impregna nossas narinas. A expectativa pela Solenidade dos Passos deu lugar à melancolia incrédula dos devotos. Como imaginar uma Sexta-Feira dita de Passos e não ver o Bom Jesus descer do Rosário? Passos? O mínimo possível! O momento nos requer dentro de casa com nossas famílias.

As Ruas Tanguitá, das Portas Verdes, do Fogo, o Beco do Quartel, da Amargura, das Flores e da Cadeia Velha nesta Sexta de Passos estarão cheias... Inundadas de esperança e de desejos de dias de paz e fraternidade. As capelas de Passos com suas flores ficarão abertas em solene saudação ao dia mais oeirense do ano. Por alí o Miserere e o lamento de Maria Béu serão substituídos pelas orações dos que zelam tradicionalmente por aquele nicho e roguemos: "Abre os meus lábios Divino Senhor e dirá minha boca o vosso louvor".

E o encontro? Desejamos que o Bom Jesus vá ao encontro dos nossos irmãos enfermos, vá ao acalento das famílias enlutadas por viverem dias funestos desta pandemia, mas que mantenha sempre junto a nós como até agora tem sido. Que a Mãe das Dores ampare nossas agruras e com seu amor maternal nos acolha na nossa mais frágil condição humana.

Nesta Sexta-feira de Passos, não diferente dos anos anteriores, a cidade está roxa, mantendo acesa nossa devoção secular, mas diante de tudo isso fica uma certeza: "para o ano que vem tem Bom Jesus nas ruas de Oeiras, a Via Sacra mais sertaneja do Brasil e vai voltar mais forte! Assim como a vida que se renova - e segue!

* Junior Vianna é historiador e presidente do Instituto Histórico de Oeiras

Fotos: Arquivo Adleuza Pacheco/ Mural da Vila