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15/04/2025 - 17:22Espetáculo será encenado também em Várzea Grande e Colônia do Piauí nos dias seguintes
Na pós-eleição não se fala em outra coisa no Piauí senão na porca que comeu os políticos derrotados ou ainda na sua indigestão por ter ingerido uma quantidade excessiva de candidatos. Além do tom humorístico e sarcástico das afirmações com a figura da porca, o fato traz mais uma outra peculiaridade: a gozação, ao que se sabe, só tem registro no Piauí.
A afirmação é do professor de Comunicação Social e pesquisador Laerte Magalhães. O professor chegou a esta conclusão após pesquisar por dois anos o tema em listas de discussão na Internet, além de realizar pesquisas em livros e junto a historiadores.
“Fiz a pesquisa nos anos de 2004/2005 quando lancei essa questão em listas de discussão com participantes de todo o país e conclui que a expressão só é usada no Piauí”, disse.
Laerte Magalhães acrescenta que o mito da porca assume características de violência no interior do Piauí, onde, por exemplo, os candidatos derrotados são submetidos a ouvir ronco de porco onde quer que estejam, outros deixam imediatamente a cidade e se dirigem à capital para fugir da gozação.
Um exemplo real desta situação falada pelo pesquisador aconteceu na recente eleição da cidade de Paes Landim, a 457 km de Teresina, onde os perdedores tiveram que se submeter a assistir farto churrasco de carne de porco na praça principal da cidade.
O pesquisador observa que a idéia ao realizar o estudo era para saciar sua curiosidade sobre o tema, mas também entender o que culturalmente sustenta o mito da porca. “No folclore do Piauí há muitas lendas com o animal, como a lenda da ‘Porca do Dente de Ouro’ e a ‘Porca Ruiva’. Encontramos também referências nas nossas origens indígenas. Algumas tribos, inclusive as que habitaram o Piauí, explicavam a origem do porco com estória de apelo erótico, onde as índias copulavam com porcos. Isto está contado no livro ‘O Cru e o Assado’ de Levy-Strauss”.
Ele lembra que existe referência a esses animais também na Bíblia e na cultura popular, como o cofrinho para guardar economias em dinheiro. Esta uma referência a engorda do porco para ser ‘comido’ em uma festa.
“Fazendo uma relação com a porca da eleição, chego à conclusão que a porca come a sobra do banquete das eleições, que são os derrotados, assim como os porcos reais comem as sobras da mesa de seu dono”, afirma Laerte.
O professor diz ainda que o mito da porca está relacionado com a desconstrução do poder. “O povo rir daqueles que tinham uma posição de poder e a perderam com a derrota nas eleições”.
Origem – Com relação à origem do mito, Laerte Magalhães fala que existem pelo menos cinco estórias para o surgimento da porca devoradora de derrotados nas eleições. Uma delas - e que ele acha mais plausível – teria acontecido no interior do estado onde um político havia escondido em moitas urnas com votos falsos para trocá-las por verdadeiras, mas chegando à noite ao local do esconderijo uma porca havia fuçado e destruído tudo e, por conseqüência, perdeu as eleições e daí passou-se a dizer que ele havia sido comido pela porca.
“Três dessas estórias teriam acontecido na cidade de Campo Maior e uma em Oeiras, cidades antigas e de tradição política. Entretanto o mito é uma narrativa que não tem origem determinada e cada um conta a sua maneira adaptando as personagens do momento”.
Fonte: Acesse Piauí