Em favor do patrimônio edificado oeirense
28/10/2025 - 10:30Manifesto do Instituto Histórico de Oeiras
* POR ROGÉRIO NEWTON
A cidade de Oeiras é quase sempre lembrada por sua história, seus eventos religiosos, seus heróis, inventados ou não, de tal modo que já se criaram estereótipos para a cidade. Em geral, as imagens utilizadas para representar Oeiras são extraídas do seu centro histórico. Igrejas, sobrados, becos, cortejos religiosos são os temas preferidos.
Não se pode negar que a cidade colonial e imperial, não totalmente apagada, cujo perímetro histórico foi tombado pelo valor de conjunto, é uma cidade interessante com a sua porção de beleza, embora seja uma “beleza que constrange”, como afirmou o poeta Salgado Maranhão, por causa da barbárie colonizadora, cujas práticas e premissas são atualizadas, dia após dia, de maneiras explicitas ou veladas.
Essa cidade bonita, rica em história e outros valores, reivindica um olhar sensível e atento, inclusive para “outra” cidade, não tão bonita, muito pelo contrário, que sempre quis sufocar a cidade digna de ser vista e sentida. Esta “outra” cidade, materialista, pragmática e utilitarista, é a cidade dos interesses rasos e imediatos, geralmente econômicos, que não está muito interessada em beleza e história, muito menos em valores éticos.
A “outra” cidade tentou e ainda tenta silenciar a cidade que resiste em beleza. Aparentemente “desistiu”, após o tombamento do perímetro histórico. Por isso, concentra suas forças nas áreas urbanas onde pode atuar livremente, com manobras rudes para passar o trator e esmagar a graça e a beleza que resta nos bairros.
A “cidade histórica” muitas vezes (mas nem sempre) encontra alguém ou a lei para defendê-la em casos de depredações e ameaças. Mas a “cidade comum”, a “cidade fora do centro histórico”, que também possui, pior dizendo, possuía sua beleza, não têm defensores, a não ser aqueles que dão a alma para defender a brutalidade colonialista.
As principais vítimas sacrificadassão as belezas naturais, representadas pelas áreas verdes, os morros que antes circundavam a cidade, mas hoje estão dentro dela, e os riachos Mocha, Pouca Vergonha e dos Negros. Árvores e águas superficiais estão sendo suprimidas para darem lugar a asfalto, calçamento, ruas, construções, loteamentos etc.
Oeiras cresce, pois é próprio de toda cidade construir-se a cada dia. Isso não é problema. O problema é como se dá essa construção, que geralmente implica em destruição. A equação não foi resolvida. A construção da “cidade fora do centro histórico” significa destruição não só da beleza e da graça das áreas verdes e de outros sítios aprazíveis, mas também da ecologia urbana.
Uma cidade, qualquer que seja ela, não se faz somente com pedras, asfalto, portões de aço e muros. É preciso considerar as árvores e a água e os seres que a habitam. Mas Oeiras os está suprimindo. Destrói as áreas verdes e em seu lugar planta espaços exageradamente pavimentados. Não repõe as árvores no lugar das que foram destruídas e gloriosamente intitula isso de progresso. Progresso para quem?
A cidade nossa vizinha que fez e faz isso muito mal é Picos. No afã de ganhar dinheiro e progredir materialmente, destruiu seu pequeno rio e avança sobre os morros e elevações, encarapitando construções nas encostas. O resultado é uma cidade feia, que “tira dos olhos o gosto de olhar”.
Oeiras está imitando Picos. Nem mesmo o Morro do Leme, um símbolo da cidade, com a estátua da padroeira em cima, é uma exceção à regra segundo a qual para construir é preciso destruir qualquer vestígio de beleza.
Fora do perímetro histórico de Oeiras, está sendo construída uma cidade que faz a cópia grotesca de Picos. E nem adianta argumentar que, para mitigação dos efeitos das altas temperaturas e da baixa umidade, árvores, águas e ilhas de frescor são necessárias. Nada disso importa: um trator passa por cima de tudo, inclusive das consciências.




* Rogério Newton é escritor