A notícia da grande alegria
POR ROGÉRIO NEWTON
No Jornal Nacional da última quinta-feira, 13, o repórter transmitia ao vivo de Belém e falou que a Zona Azul é a mais importante da COP 30. Para quem não sabe, a Zona Azul é restrita a pessoas credenciadas, como Chefes de Estado, representantes estrangeiros, autoridades... É o lugar onde está o poder na Conferência. O mais evidente é o poder político, mas é claro que há o poder econômico. Os dois andam sempre juntos.
Sem querer ou não, o repórter, cujo nome não gravei, escancarou em palavras o que a grande mídia adora fazer de forma clara ou velada: o mundo é uma estrutura hierarquizada; existem os que mandam e os que obedecem, os principais e os subalternos. É o melhor dos mundos possíveis. Não há outros.
A Zona Azul da COP 30 é a mais importante. Para quem? E por quê?
Quem deu e está dando a resposta são dezenas ou centenas de movimentos sociais que constituem a Cúpula dos Povos, o segmento da COP 30 que disse e está dizendo a que veio, entre os dias 12 e 16 de novembro, no campus da UFPA, por onde passa um braço do Rio Guamá.
Em reuniões de exposições e discussões sobre temas que variam do mito do crédito de carbono à “tokenização da Indigeneidade”, passando por assuntos ligados ao clima, favelas, “transição energética”, perspectivas de gênero e raça e muitos outros, homens e mulheres de várias nacionalidades, especialmente da América do Sul, expõem a nu questões evitadas pelos salões da Zona Azul e pelas alegres “vitrines” da Zona Verde da COP 30.
Hoje eu acompanhei algumas dessas discussões enfáticas e a concentração dos militantes no Plenarão, como é chamado a principal assembleia da Cúpula dos Povos. Ali houve uma manifestação de gente que tem vontade e esperança de mudar o mundo hierarquizado e monetarizado, que construiu e mantém uma máquina de destruição planetária e sempre acena em seus discursos, que a grande mídia propaga, com soluções endinheiradas e linguagem cheia de lábia.
Os ativistas portavam bandeiras e dançavam e cantavam canções populares. Estava ali, não o país oficial das zonas azuis, mas o país real, sem terno e sem gravata, o país dos melhores instintos e vislumbres de sociedade. Homens, mulheres, bandeiras, faixas, cartazes, mesmo os que estavam pelos jardins... Tudo ali produzia uma energia vibrante.
Uma das faixas coloca o capitalismo em xeque, falando abertamente e questionando o sistema social e econômico, que precisa mudar radicalmente ou ser extinto: “Corra COP 30: O fim do capitalismo está atrás de nós! Emancipação ou extinção!”
Estavam ali a Articulação de Mulheres Brasileiras, “transformando o mundo pelo feminismo”; a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil; o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu; os estudantes do “coletivojuntos”, com cartazes como Nossas Florestas Não Estão à Venda. TFFF Não é a Solução; e o alegre refrão cantado na passeata ao som de tambores: “Governo Lula, que papelão / Destrói o clima com essa perfuração”; a União Nacional por Moradia Popular; a Federação de Umbanda e Culto Afro Brasileiro do Maranhão; O MST; a Associação Nacional de Agroecologia; a Mobilização dos Povos pela Terra e pelo Clima; a Jornada Continental pela Democracia; a Marcha Mundial das Mulheres; as Mulheres Marajoaras Exigem Rios Seguros para seus Povos e seu Futuro; o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais; o Movimento Negro Unificado, e muitos, muitos outros.
A Rede Favela, apesar de usar o termo “sustentável”, propõe a assinatura da Carta Aberta de Favelas, Comunidades Tradicionais e Marginalizadas de Todo o Mundo Para as Autoridades Globais Presentes na COP 30. “Queremos as favelas no centro das decisões climáticas”, afirma o folheto que contém o QR Code para acesso e assinatura da Carta.
Por sua vez, a Rede Jubileu Sul reivindica Reparações já! e extinção das dívidas de países pobres altamente prejudicados por esse e outros instrumentos de dominação: “Pela vida acima do lucro, / pela vida acima da dívida”. “Não à financeirização da Natureza e do Clima!”.
E para não dizer que não falei de Nordeste, foi divulgada, em espanhol, a Carta Política de los Pueblos y Poblaciones del Nordeste para la Cumbre de los Pueblos, datada de Fortaleza (CE), setembro 2025. Diz a carta: estamos trabalhando em todo o Nordeste brasileiro, em prol da rica sociobiodiversidade da caatinga, semiárido, mata atlântica, os mares...
Tanta é a vitalidade construtiva da Cúpula dos Povos que nem falei aqui da Aldeia COP, onde os indígenas se concentram mais e onde também a energia vital e a beleza são contagiantes. Foi na Aldeia que encontrei Paulo Pankararu, meu mais novo amigo.
Quando as atividades do Plenarão foram concluídas, no finalzinho da tarde, aparece em grande estilo a Associação Carnavalesca Xodó da Nega, com porta-estandarte e alegria, arrastando todo mundo. Parecia o Rancho da Rosa Encarnada.



