
A poesia blogueira oeirense
"É tão fácil ser poeta, e tão difícil ser um homem." (Charles Bukowski)
Com o advento da internet, popularizou-se a prática de se criar páginas de acesso simples e gratuitos, onde as pessoas podem se expressar numa página virtual. Os chamados blogs, vieram pra ficar e criaram uma verdadeira revolução no formato dos veículos de comunicação.
De intelectuais orgânicos a estilistas, de jogadores de futebol a escritores renomados como José Saramago, todos passaram a habitar um espaço público e vivo chamado blogosfera.
Toda essa revolução favoreceu a produção poética, pois agora, poetas do mundo inteiro podem tirar seus versos da gaveta e publicarem nesses espaços, sem qualquer custo.
Em Oeiras, terra reconhecida como berço de grandes poetas como Nogueira Tapety, Licurgo de Paiva, Gerson Campos, Rogério Newton, dentre tantos outros, o movimento poético tinha se tornado tímido, não em termos de produção, pois muitos são os que por aqui se aventuram na arte de poetizar, mas tímida no sentido de publicação. Muito se ouvia dizer que poetas tinham gavetas cheias de versos, mas faltava-lhes dinheiro para a produção de livros. O que ocorria em Oeiras não é muito diferente daquilo que acontece em nível nacional.
Por isso a blogosfera foi muito bem recebida na velha capital. Surgiram páginas de poetas novos que, sem oportunidade de lançar seus livros, começaram a publicar poemas, sedimentando a tradição poética da cidade, revelando uma nova geração de grandes talentos.
A nova safra de poetas saiu do casulo e criou um feedback com um público leitor que degusta essa produção, passeando das formas fixas clássicas à poesia neo-concreta.
Basta citar nomes como Vivaldo Simão, Rogério Freitas e Edilberto Vilanova, que publicam poesia da melhor qualidade no blog “O Baião de três”. Os três jovens se alternam publicando poemas de estilos diversos, mostrando assim, a versatilidade da nova geração.
Ainda poetizando pela net, encontramos a poeta Paula Alves, com sua poesia feminina contemporânea, de tom leve e metáforas inusitadas, ela versa no seu “eu e outras de mim”, blog recheado de profundos poemas curtos que refletem sobre a condição feminina e o erotismo.
Eu também mergulhei nessa experiência poético-visual ao criar há dois anos o “A Cor da Chita” e confesso que mesmo não tendo a satisfação de ver meus poemas publicados ainda em um livro, tenho hoje a felicidade de vê-los sendo lidos pelo mundo, chegando a lugares que nem eu mesmo sei.
Por entender esse processo como uma nova fase na produção literária oeirense, idealizei também o “Duelo de Letras”, blog de uma das turmas do curso de letras da UESPI, Campus Professor Possidônio Queiroz. Nele muitos poetas que se escondiam, despiram suas almas em versos.
Mais não poderia deixar de lembrar também Lameck Valentim com o seu “A baixa do cururu”, Ana Bárbara Sá e sua poesia ora lírica, ora social, publicada no blog “La Raspa Del Tacho”. Ou a Cynthia Ozório com o seu “Prosa Autoral”, de poesia simples, porém carregada de significados.
Além dos poetas assumidos, existem blogs com outras propostas que vez por outra nos presenteiam com poemas feitos com muito cuidado, prova disso são os historiadores Pedro Freitas Jr no seu “Flor de Passo” e Júnior Viana no seu “Mosaico da Vila”.
O certo é que a terra de músicos, loucos e poetas, esta vivenciado a publicação quase que diária da nova geração de poetas que corajosamente, deixam a velha história de poemas guardados a sete chaves e colocam à disposição de um público poesia de ótima qualidade tanto temática, quanto formal.
Usando recursos visuais, a poesia blogueira, vai reinventando o jeito de fazer poesia, quebrando estigmas relacionados a poetas, mostrando assim que a poesia aqui ainda pulsa.
*Stefano Ferreira. Jornalista, Escritor, Poeta e Professor da Faculdade R.Sá