
A vida como ela é...

(*) Ferrer Freitas
O dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues tinha nos anos sessenta uma coluna no jornal Última Hora onde escrevia crônicas do cotidiano carioca, a maioria passadas no subúrbio e mostrando dramas e tragédias de pessoas e famílias, ressaltando taras sexuais e comportamentos outros impróprios e exagerados. Vários textos, posteriormente, foram adaptados para a TV, sendo o de maior sucesso “A Dama do Lotação”, que virou filme de enorme sucesso. Lembrei-me do extraordinário autor, natural de Pernambuco, justo pelo título da coluna, que tomo emprestado para fazer algumas divagações. Não adianta ficar-se, como gostava de dizer um querido amigo, divagando à toa. É preciso que saibamos o que queremos dizer, o que vou tentar.
Ano passado, mais precisamente no dia dos namorados, estava eu descuidado em restaurante com a cara-metade , como era comum referir-se a esposo (ou esposa), isso no tempo em que os rios de Teresina ainda corriam fáceis, quando vi alguém esbaforido reclamar da demora em ser servido. Olhei direitinho e soube, depois de informado, tratar-se do dono de comércio de muitas lojas em que passo horas perdidas esperando atendimento. Conclusão, a vida é assim. Alguns humanos fazem aos outro o que não admitem que façam com eles.
A capa da revista Veja da semana passada traz foto presumível da presidente Dilma esmagando um tomate com o pé direito (ficaria melhor com o esquerdo), em montagem feita da cintura para baixo. O sentido é admitir responsabilidade ao governo pelo retorno da inflação, creditado à alta estratosférica da hortaliça, o que, em outras palavras, significaria “pisar no tomate”. Ora, o que a presidenta, como gosta de ser chamada, tem a ver com isso se os companheiros de plantão acham que o fenômeno é coisa só de governos neoliberais ou de direita, embora grandes articulistas de revistas e jornais, em textos irretocáveis, afirmem que não? Outra, tenho pra mim que o número de ministérios passou da
conta ao chegar aos quarenta , parece-me. Segundo ouvi do grande radialista e jornalista Dídimo de Castro no seu programa vespertino de rádio, “Microfone Aberto”, só está faltando criar o da “Caça”, pois o da “Pesca” já existe. E, queiram ou não, me considero de esquerda, como outrora também foram Ferreira Gullar e Zuenir Ventura, sem, evidentemente, querer comparar-me a estes bambas. Longe de mim! Aliás, de nós, não é velho Puscas?!
Finalmente, só mais uma para não tornar o texto monótono. Como faço uma caminhada diária, aqui mesmo pela zona leste, a partir de 17 horas, quando o sol começa a baixar, encontro a maior dificuldade por onde andar. Nesta “minha Teresina que não deixo jamais”, como diz a canção, não existem mais calçadas. Viraram estacionamentos de veículos. Isso me faz lembrar, agora, o que certa vez me contou o grande piauiense Leonides Filho, com boa dose de humor. Pouco antes de morrer, o cacique político paraibano João Agripino Maia, natural de Catolé do Rocha, disse a seu filho e herdeiro político de mesmo nome, postado ao lado do leito, que ficasse tranquilo por que não deixava inimigos. Ante o espanto de Agripino Filho, completou: “matei todos!”.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras