
Actus

Todos os meses do ano vou a Oeiras. Este ano resolvi passar férias lá. Escolhi um período que coincidisse com VII Festival de Cultura, assim poderia desfrutar melhor da programação; participar de alguma oficina de teatro; assistir a todos os shows musicais e espetáculos; rever amigos; conversar com visitantes, etc. Tive que alterar três vezes o período das férias, devido aos adiamentos do Festival, que chegou à sétima edição sem data certa. Começou num domingo, dia em que, via de regra, os visitantes retornam às suas cidades.
Comenta-se que o Festival foi organizado de última hora (22 a 24/01/2012) para que coincidisse com 24 de Janeiro, período em que se “instala” naquela cidade o Governo do Estado, em comemoração à Adesão do Piauí à Independência do Brasil; período de intensa agenda política: ajusta-se acordos, decretos; reinaugura-se fachadas, distribui-se medalhas.
Capinaram ruas, pintaram meios-fios , roçaram quintais, ajustaram paralelepípedos, lustraram móveis e egos.
Durante o Festival, o governo anunciou a construção de um monumental obelisco, que, segundo consta, custará aos cofres públicos cerca de um milhão de reais. Oeiras já é um monumento, basta que lhe dediquem merecido respeito.
O VII Festival não ofertou nenhuma Oficina, nem mesmo para os músicos da Banda Santa Cecília, a “homenageada”. Das quatro peças de teatro programadas, duas foram encenadas, entre elas a concorridíssima Transferência da Capital, com vasto e conhecido elenco, farta em figurantes, cuja Trama, Ação Dramática, Clímax e Desenlace já sabemos de cor e salteado, posta em cena pela Cia do Palácio, aplaudida em cena aberta.
Num contexto envolvido pela estética ilusionista, que ajuda a perpetuar o status quo, os espectadores nem se dão conta que estão assistindo a um espetáculo cuja intenção é a “catarses” aristotélica, ou seja: a purgação dos sentimentos do público, para chegar à passividade e não despertar nenhuma atitude critica racional. Ilusão a serviço da ação política e do doutrinamento declarado. Desde Atenas, tiranos, fulanos e sicranos operam e logram com estes artifícios.
O dramaturgo alemão Bertolt Brecht denominava isso de empatia por abandono.
Não sei o porquê da classificação “Nacional” “Regional” e “Local”. Seja como for, os artistas cumpriram sua parte.
Retorno das férias meio mordido.
Próximo ano, o mesmo cartaz.