
Atento e forte

POR CARLOS RUBEM
O antigo Grupo Escolar Costa Alvarenga, inaugurado em 1938, situado no centro da cidade, integrante da área do Tombamento do Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras, promovido pelo IPHAN, em 2012, vai ser transformado em mais um Centro de Ensino em Tempo Integral - CETI. O seu traço arquitetônico é similar aos seus congêneres Piauí afora.
No primeiro semestre do ano em curso, quando determinada empresa se instalou para proceder a reforma para tal fim, encontrei-me com o fiscal da obra em apreço.
Mostrei-lhe que seria uma grande oportunidade para restabelecer as feições originais daquela construção, mormente em relação às janelas, modelo venezianas, que lá existiam, muito apropriadas para minimizar os efeitos da radiação solar ao alunato, garantir natural ventilação, além da valorização de sua estética e elemento revigorador da memória paisagística.
Para tanto, com a com a colaboração espontânea do arquiteto nativo, Evandro Veras, forneci registros fotográficos de época; indiquei vestígios de marcações de ferrolhos, dobradiças, furos nas soleiras; conceberam-se ilustrações das esquadrias. Tudo visando aprimorar o projeto arquitetônico que tinha sido concebido, e, via de consequência, a adoção de aditamento contratual, o que seria de pouca monta financeira, decerto.
Solicitei à (pífia) representação política do município, em nível estadual, o devido empenho na consecução do complemento ansiado, em apreço. Ocasionalmente, mantive tratativas com o Secretário de Educação do Piauí, o queridinho Washington Bandeira, acerca do resgate, em comento. Demonstrou interesse em dar os encaminhamentos de praxe. Nada avançou!
Há 20 dias, comunicaram-me que colocaram uma placa luminosa, defronte ao Costa Alvarenga na qual estampava o Brasão do Piauí e o nome do respectivo CETI, no mesmo local onde havia um obsoleto e horroroso orelhão.
De imediato, enderecei um requerimento ao IPHAN/PI pedindo as seguintes informações:
I - A reforma em curso do Costa Alvarenga é precedida da Autorização do IPHAN?;
II - Caso positivo, prevê-se a adoção de tal placa defronte à edificação multicitada?
III - Tendo sido, porventura, autorizada a mencionada adoção, quais os fundamentos objetivos desse ato administrativo?
O aludido totem em nada acrescenta à identidade do educandário, uma vez que, em seu frontispício, há esses dizeres (denominação) e a sua imagem é palpitante no seio coletivo.
A malfadada fixação da placa em tela, além estreitar a calçada e criar certo embaraço ao fluxo de transeuntes; para quem tem o mínimo de sensibilidade artística, realça estranho e dispensável elemento paisagístico.
A propósito, acabo de receber resposta daquela Autarquia Federal, como se vê adiante:
“Agradecemos pela sua manifestação, pela atenção e o zelo em comunicar a este Instituto a situação referente à instalação de equipamento publicitário defronte ao antigo Grupo Escolar Costa Alvarenga, bem cultural inserido na poligonal de tombamento do Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras.
Cumpre-nos esclarecer que não foi emitida, por parte deste IPHAN, qualquer autorização para a
instalação do referido equipamento publicitário. Até o presente momento, não consta neste Instituto nenhum processo administrativo ou pedido formal de autorização relacionado à esta reforma. Portanto, trata-se de uma instalação realizada sem o conhecimento ou anuência desta Autarquia.
Assim que tomamos ciência do fato, foram adotadas as providências necessárias, já tendo sido solicitada a imediata retirada da placa pela empresa responsável pela obra, conforme se verifica na fotografia enviada em anexo a este formulário (SEI nº 6740050).”
Por falta de uma gestão eficiente, mais um Órgão Público — além dos proprietários de imóveis privados recalcitrantes — comete no ato de deseducação ambiental.
Enfim, a agressiva geringonça foi retirada, ontem (1º.10.2025).
Que tristeza! Como diz a canção Divino Maravilhoso, de Caetano Veloso e Gilberto Gil: “É preciso está atento e forte / Não temos tempo de temer a morte”.