
Capital de que mesmo?

(*)Por Benedito Amônico
Em 1968, com 18 anos, arribei de Oeiras. Fiz as trouxas e vim enfrentar a vida na capital. O primeiro emprego veio logo. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Tinha que acordar às 5 horas da manhã, bem antes dos meus hospedeiros, de modo a usar o banheiro, já que à época inexistia suíte. Morava no bairro Vermelha, altura da Igreja de N.S. de Lourdes, e trabalhava na praça João Luiz. Tempo que me traz ótimas recordações: a primeira namorada, a cervejinha no boteco da esquina e visitas, mesmo esporádicas, aos cabarés da Rua Paissandu.
Aprovado em concurso para a Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), retornei a Oeiras, como gerente. Em junho de 1975 a COBAL fecha. Aí vem o tempo do Banco do Nordeste (BNB), aprovado que fora em concurso realizado em janeiro de 1976, com lotação na agência de São Raimundo Nonato. A opção de moradia eram as pensões familiares, com tratamento vip, pra não dizer, carinhoso. Na de seu Silveira, homem de certa idade, onde fiz pousada por um bom período, lembro dele convalescendo de operação a que fora submetido em Salvador, Bahia, de volvo, doença popularmente conhecida por “nó nas tripas”. Dava gosto vê-lo no cochilo na sua “cadeira preguiçosa” , deixando escapar puns, alguns audíveis, quando sempre acordava, atarantado, e dizia: “vai matar o cão”. O cirurgião que o operara recomendou que não prendesse os gazes, não importando o local, nem com que estivesse. Podia ser até com o Governador.
Cidade hospitaleira, de gente católica, São Raimundo comemora com grande festa seu padroeiro. A fé é tanta que comove o visitante. Lembro que foi lá que ouvi, pela primeira vez, num dos festejos, a chamada-propaganda em emissora local: “São Raimundo é a capital da fé.” Tempos depois vivencio os festejos de São Pedro de Alcântara e Floriano vira a “capital da fé”. Ocorreu o mesmo em Esperantina na festa da padroeira Nossa Senhora da Boa Esperança. E assim ocorre em Altos, com São José, Campo Maior, com Santo Antônio, São Pedro, com São Pedro, e, pra finalizar o papo, com quase todas as cidades piauienses. Daí não entender o porque de tanta polêmica em torno do assunto objeto de artigo recente. Cada cidade que se diga capital do que tem de mais representativo. Pra mim Oeiras pode ser a “velhacap”, “primeira capital” e até “capital dos velhacos”, levando-se em conta o que disse certa vez meu avô Ferrer em discussão no Café Oeiras para se saber qual era a maior procissão da cidade: "é a dos velhacos, que começa no Oiteiro e vai até à Bomba”, concluiu com fino humor.
(*) Benedito Amônico é aposentado do BNB