É difícil, mas existe!
(*) Por Ferrer Freitas
Li, não faz muito tempo, inserida na revista VEJA, matéria sob o título DEPUTADO DIFERENTE, assinada por Paulo Celso Pereira. Acho até que pra muita gente o título soaria melhor DEPUTADO BESTA (besta aqui no sentido de otário). Pois não é que José Augusto Reguffe, de 38 anos, proporcionalmente o deputado federal mais bem votado do país, superando inclusive o inefável Tiririca, logo no seu primeiro dia de mandato, pelo Distrito Federal, expediu alguns ofícios à mesa-diretora da Câmara abrindo mão de regalias consideradas legais, só que imorais, segundo ele. Num dos expedientes, o deputado abria mão do 14º e 15º salários, chamados de “ajuda de custo”, sob o argumento de que todo trabalhador recebe somente treze salários por ano. E informa: “não acho que seja correto que um deputado tenha direito a salários extras.” Abriu mão ainda de auxílio-moradia, já que reside em Brasília, bem assim de passagens aéreas, por motivos óbvios. Segundo a matéria, as medidas resultarão em uma economia de 2,4 milhões de reais se cumpridas, rigorosamente, nos próximos quatro anos. Imagine que tem quem junte dez vezes o valor no mesmo período!
Abordo o assunto justo por ter lembrado do que me disse um amigo ludovicense (são-luisense) em acalorado papo de boteco sobre política e políticos, numa das minhas idas à “Ilha do Amor”, como a capital São Luís (MA) é conhecida e onde vou com frequência para visita à minha filha Juliana, médica, que lá reside. Para o parceiro de mesa, corroborando o que Pelé já dissera há séculos, o brasileiro não sabe votar, já que maioria vende o sufrágio por qualquer caraminguá (mestre Aurélio registra como nota de pouco valor). Informa ainda que, de tanto serem abordados, alguns parlamentares só transitam nas áreas comuns dos legislativos com celulares colados ao ouvido e passo apressado. Acham que qualquer pessoa que os procurem estão em busca de alguma benesse, um trocado que seja.
Mas temos também o exemplo de um prefeito de Oeiras, nos anos cinqüenta, que abriu mão de receber qualquer remuneração no desempenho do cargo. Sim, foi o empresário Mário de Alencar Freitas, segundo contou-me o saudoso Raimundo Nonato Rêgo, que presidiu a União Artística Operária Oeirense anos a fio, inclusive no seu quatriênio na prefeitura. Estando em dificuldades pra desenvolver as atividades da entidade idealizada pelo poeta Nogueira Tapety, Raimundinho, ou ainda Raimundo de Zefinha, apelou ao prefeito, através de ofício, que fosse destinada à UAOO subvenção mensal. Recebeu de seu Mário resposta autorizando a Câmara de Vereadores a votar o repasse à acreditada entidade do que lhe cabia receber de remuneração durante o mandato. Mostrou-me o Neguinho, assim também conhecido, mais de uma vez, esse documento. Daí o título deste escrito!
(*) Ferrer Freitas é do IHO e devoto do Divino