
"Ecce Sacerdos Magnus"

(*) Por Ferrer Freitas
Sob este título escrevi crônica falando do Padre José Pereira de Maria, publicada no Diário do Povo, edição de 19 de novembro de 2002. À época, por descuido, não fiz a tradução do latim o que agora faço: “Eis o grande sacerdote”. A republicação é justo pelo seu falecimento ontem, 26, em Goiânia.
“Ele chegou sem que ninguém estivesse a esperá-lo para, pelo menos, um aperto de mão de boas-vindas. Jantou um PF (prato feito) na copa do palácio episcopal e a sobremesa foi apenas uma banana deixada . Sua missão era espinhosa, substituir um mito. Fora deslocado pela diocese da vizinha Floriano para exercer a direção do Ginásio Municipal Oeirense. Dá para entender que o colégio era da municipalidade, administrado pela diocese. Muita gente apostava que lhe faltaria pulso para colocar as coisas nos eixos, tal era a revolta dos alunos pela forma como fora defenestrado o antigo diretor, o Padre Balduíno Barbosa de Deus. É que os políticos do mando de então passaram a temer a concorrência dele que teimava em não obedecer aos cânones (no caso, políticos) estabelecidos. Contrariou meio-mundo com sua oratória admirável. Foi então aconselhado pelo bispo, Dom Raimundo de Castro e Silva, um homem baixinho e bom, mas sem autoridade, a dizer aos alunos que Balduíno sairia de licença, mas voltaria dali a seis meses. Baldu, como a galera (alunos) o tratava, a boca-pequena, recusou-se a compartilhar daquela farsa o que levou os alunos a desencadearem uma greve, com passeatas, palavras de ordem equebra-quebra no prédio do ginásio, isso ainda no primeiro semestre de 1957.
Daí a decisão encontrada de trazer de Floriano o Padre José Pereira de Maria, o Padre Pereira de todos. Homem do diálogo, educador extraordinário, em pouco tempo conseguiu pôr as coisas em ordem. E, diga-se, sem ceder um milímetro na disciplina, nem deixar cair o nível do ensino, mercê de seu corpo docente constituído de mestres como Gerardo Helcias, José Coelho Reis, José Expedito Rêgo, Firmino Barroso, Mundiquinho Barbosa, Amália Campos, Nadir Tapety, Ana Amélia Freitas e outros. Pereira, de forma maleável e muita conversa colocou as coisas nos eixos. Irmãos no sacerdócio, ele e Balduíno saíam sempre, os dois de lambreta, à procura de lugar sossegado para o papo descontraído. Comentou-se até que um áulico incomodado, que apostava no confronto, deixou escapar em roda no Café Oeiras: “agora é que a coisa está preta. Um é ‘de Deus’ e o outro ‘de Maria’!” Colocadas as coisas no devidos lugares, no final de 1960 o Padre Pereira mudou-se para Goiânia, onde continuou sua missão de educador, deixando muita saudade. A sociedade soube reconhecer seu profícuo trabalho em prol do ensino secundário de Oeiras Ao contrario do PF da chegada, ofereceu-lhe um banquete no Oeiras Clube.”
Pois bem. Em Goiânia o Padre Pereira destacou-se nesses anos todos. Foi Reitor e, posteriormente, Chanceler da Universidade Católica de Goiás, e ainda Vigário-Geral da Arquidiocese de Goiânia. Veio a falecer na madrugada desta terça-feira, acredito que com mais de 80 anos. Grande ser humano. Desses que o mundo anda carente. “Requiescat in Pace” Padre José Pereira de Maria.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras