
Felizes os puros de coração

Foi no dia 19 de agosto de 1961 que nossa família ganhou um presente lindo: o filho caçula de José Maria Mesquita e Rosa. Aquele lindo bebê foi batizado com o nome do seu pai: José Mendes Mesquita Júnior, o Juninho. Era o xodó dos irmãos e de toda a família.
Aos oito meses Juninho foi acometido de uma paralisia que causou atrofia em seu lado direito, provocou déficit no desenvolvimento mental e problemas na fala.
Não obstante seu problema de saúde, Juninho continuava sendo o queridinho da família. Na escola, aprontava todas, pulava a janela, fugia das aulas, e seu pai sempre acobertava suas travessuras para que sua mãe não brigasse com ele nem impingisse castigos.
O convívio familiar durante toda a infância foi assim. Quando os irmãos cresceram e cada um tomou seu rumo na vida, Juninho permaneceu ao lado de seus pais até que eles partiram para a vida na eternidade. Depois disso ele ganhou uma nova mãe e um novo pai, os meus pais.
De tio querido que me buscava na escola quando eu ainda ensaiava as primeiras letras, Juninho passou a ser meu irmão mais velho, sempre cuidadoso, dava conselhos e era muito divertido.
Quando retornei para morar novamente em Oeiras, já adulta, Juninho tinha se tornado meu irmão mais novo, um menino em corpo de homem. E era com imenso prazer que eu auxiliava nos cuidados para com ele.
Sua vida cristã era efervescente: vivia com muita intensidade todas as festividades da Igreja, mas a que mais o deixava encantado era a procissão do fogaréu. Ele passava o ano inteiro se preparando para aquela noite em que saía com sua lamparina no meio da multidão de homens a procurar Jesus. Dizia que era afilhado de Bom Jesus dos Passos e todas as noites se prostrava diante de sua imagem e, creio eu, fazia uma prece silenciosa com sua mão de devoto estendida em direção ao ícone mantido em capela nesta Catedral. Como também devotava-se diariamente à reza do Santo Terço, semanalmente à missa da Imaculada Conceição aos sábados e a todas as missas transmitidas no domingo, sempre ao lado de seu amigo fiel, o rádio. E como lhe era aprazível acompanhar a Banda de Música Santa Cecília. Ele conhecia todos os hinos e cânticos de cada ocasião festiva: Perdão Meu Jesus, Queremos Deus, enfim... Quase um beato, no melhor sentido da palavra.
Se para quem não o conhecia parecia ser uma pessoa calada, em casa Juninho dialogava com todos e gostava mesmo era (como ele mesmo dizia) da “moagem”, nas rodas, nas praças, nas calçadas, no Café Oeiras, Bar Dois Irmãos, Bar de Bené. Juninho era um homem da noite, um boêmio sem o vício do álcool. Muito observador, sabia o que se passava com cada um de nós e fazia questão de ser útil em todos os momentos, sempre se fazendo presente.
E seu trabalho, todos sabiam, era na rodoviária, era funcionário da Líder, como ele mesmo dizia. Não pagava passagem para viajar a Teresina (ele se gabava disso). E todos os motoristas e cobradores o conheciam e o tratavam com a cordialidade dispensada a um colega de trabalho.
Por onde passou plantou e colheu amizade, admiração, respeito. Na vizinhança era a companhia certa todos, principalmente idosos e doentes, e sempre os visitava, em especial Seu Oliveira Sinimbu, e ficavam naquela calçada noite adentro, cada um com seu rádio.
Sábado passado (9/6/2012) o coração puro de Juninho resolveu falhar. Contrariando as previsões médicas dos anos de 1960 e as lições de Dr. Tarso, que previu 15 anos de vida para ele, Juninho partiu para a libertação das mazelas terrenas, do peso de seu corpo cansado, para habitar no plano espiritual, em companhia de seus pais, que muito o amaram nesta terra.
Nós que convivemos com ele só temos a agradecer ao Deus de bondade por ter colocado esse anjo de luz em nossas vidas: respeitoso, caridoso, atencioso, amável, observador, divertido, puro de coração. Vai, Juninho, vai habitar a linda morada que há preparada para você, pois Jesus nos ensinou que “felizes são os puros de coração porque verão a Deus”.
Aos amigos que oram conosco nosso agradecimento e nossa prece para que Deus os abençoe grande e incessantemente. Amém.
Sânia Mary Mesquita
Oeiras (PI), 15 de junho de 2012