
"Forasteiros"

(*) Por Ferrer Freitas
Assim mesmo como está, título entre aspas, escrevi há muitos anos crônica lembrando e louvando pessoas que em Oeiras aportaram e por lá ficaram até passarem deste para o andar de cima. Teve até um querido amigo, descendente de pessoa citada, que não gostou achando que seu ancestral não era “forasteiro”, embora mestre Aurélio registre o verbete , entre outras designações, como “o que vem de fora”. Já como sinônimo aparecem palavras depreciativas como “alienígena”, “estranho”, “estrangeiro” etc.
Difícil é precisar quantos por lá chegaram e nunca arredaram o pé, para usar uma expressão bem popular. A maioria, com certeza, trazida por oeirenses que neles vislumbravam um ganho para a terra, em outras palavras, uma contribuição para seu desenvolvimento. Como homenagem citaria os seguintes, já falecidos: Sebastião Portela, Orlando Peixe, Orozimbo Bulhões, Chico Baião, Pedro Careca e Gerardo Helcias. Mas, gostaria de ater-me a um que está vivinho da silva e já passou dos noventa anos. E, o que é melhor, de bem com a vida, como constatei ao visitá-lo no seu comércio na minha ida a Oeiras em setembro último. Refiro-me a Elpídio Sá Cavalcante, o Elpidinho de todos. E o faço pela amizade que lhe dedico, que sei recíproca. Também pela sua verve, aproveitando para registrar uma tirada genial sua contada na ocasião.
Antes, merece dizer que veio para Oeiras no final dos anos trinta e que seu primeiro emprego foi em A. FREITAS & FILHOS, no antigo largo da prefeitura, já há muitos anos praça Costa Alvarenga. Foi ainda morar com o proprietário do negócio, Antônio de Alencar Freitas, amplamente conhecido por Totonho , em casa que foi residência do padre Freitas (José Dias), meu trisavô, pai do bisavô Silvino. O reverendo era irmão de Totonho e foi pároco de Oeiras de 1872 a 1906. Anos depois o negócio passou ao controle dos filhos, à frente o grande empresário Mário de Alencar Freitas, com quem Elpidinho continuou trabalhando por muito tempo até estabelecer seu próprio comércio, PONTO CERTO, ainda funcionando e, o que é melhor, com o mesmo nome, só que situado do outro lado da praça. “X” como se diz aqui em Teresina.
Pois bem. Certa vez, recém-chegado a Oeiras, indo do trabalho para casa, ao passar pelo Passeio Leônidas Mello um gozador de dentro do bar Café Oeiras chamou-o e disse: “rapazinho, quer ir lá na Praça Visconde da Parnaíba ver se estou lá!”. Elpidinho, ato contínuo, respondeu: “preciso antes de um cabresto, por que se o senhor estiver lá, eu já trago puxando”.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras