A profundidade da dor e a superficialidade da exposição
31/03/2024 - 18:01Espalhar fotos e vÃdeos de vÃtimas fatais de acidentes constitui um ato criminoso.
*Por Carlos Rubem Campos Reis
Sou o terceiro dos cinco filhos de Aldenora Campos e Ditinho Reis, já falecidos. De sorte que mantive próxima convivência tanto em relação aos meus dois primeiros irmãos, Paulo Jorge e João Henrique, quanto às minhas irmãs mais novas, Amada e Ceiça. O primogênito daquele casal, Paulo Jorge, é mais velho do que eu exatamente cinco anos e quatro meses. Nesta data (26.08.14), ele completa sessenta anos!
Culturalmente falando, foi-lhe incutido que deveria ser o membro exemplar de uma família. Esta primícia ensejava-lhe certos privilégios, mas embutia uma exigência sempre cobrada. Se ocorresse qualquer altercação fraternal; se houvesse uma briga de rua, uma traquinagem qualquer envolvendo João Henrique ou a mim, ele também pagava o pato!
O seu nascimento foi sublinhado no capítulo “O Primeiro Parto” do romance “Os Caminhos da Loucura” – obra de cunho biográfico – de autoria do escritor oeirense José Expedito Rego, meu padrinho de crisma, de saudosa memória. Aliás, conta-se que a parturiente ao sentir os “repuxos” soltava apavorantes gritos. A sua austera mãe, a vovó Bembém, a ameaçou: – Olha chibata... Deixe de espetáculo!
Primeiro neto pela linha maternal, desde pequeno era muito gordo, paparicado pelas nossas cinco tias solteiras. Não tinha muita destreza nas brincadeiras infantis. Muito medroso, Adão Batista, um menino que morava na casa do vovô Joel, o acolitava em tudo! Referindo-se a ambos, uma vez a Mãe Ó – nossa querida tia Aurora Campos –, madrinha de Adão, disse que os dois garotos deveriam ser padres. “Não, quero ser é Bispo!”, atalhou o ora aniversariante.
Certa feita, na fazenda Golfos, que pertencera ao vovô Natu Reis, montou-se num jumento. Ele, na cangalha e o Creso escanchou-se na garupa. Quando o animal, com a cilha frouxa, deu poucos passos xotando, eis que os primos foram se curvando para a esquerda e caíram dentro de um riacho para a gargalhada de todos que presenciaram memorável cena.
Desde criança ajudava o nosso pai que mantinha comércio no ramo de remédios. Fez o curso primário e o ginasial aqui. Parte do científico em Salvador. Em Fortaleza, graduou-se em Farmácia-Bioquímica, pela UFC. Plantou seu canteiro profissional em sua terra natal. Estabeleceu a prestigiada “Drogaria do Povo”, onde trava sua incansável batalha diária. É benquisto pela sua cativa clientela e por todos que o conhece. Muito respeitado pela comunidade local. Católico fervoroso. É devoto de Bom Jesus dos Passos. Além de futebol, adora uma “horinha de arte”...
Casou-se com a Nayra Cavalcante. Houve três filhos: Nayro, Ana Maria e Antônio de Pádua. A sua neta Júlia, a sapeca Juju, de quatro anos, o domina.
Em Teresina, ao tempo em que mamãe convalescia da extirpação de um tumor cancerígeno que a vitimou, trouxeram a Juju para cumprimentá-la. Quando a criança saiu do quarto, vi que as lágrimas corriam pela face de Dona Aldenora. Indaguei-lhe o motivo daquela emoção que sentira. “Esta minha bisneta tem o mesmo rosto de Paulo Jorge quando nasceu...”. Nesta hora, também caí em soluço!
Assim, Juju, você e todos nossos familiares e amigos temos muito que nos espelhar na figura deste sessentão que muito nos honra. Parabéns, PJ!