
Ex-jogador oeirense Ricardo da Costa Martins morre aos 55 anos no estado de Goiás
16/05/2025 - 20:22Ricardo foi jogador profissional, atuou pelo Oeiras e teve uma breve passagem pelo Cori - Sabá de Floriano.
Morreu na tarde desta terça-feira dia 04, o sr. José Pereira da cruz, conhecido carinhosamente como Zé Homem, aos 92 anos.
Nascido no dia 06 de fevereiro de 1926, era casado com dona Cipriana e deste casamento, tiveram os filhos, Getúlio (inmemorian) Amparo, Lourimar, Assis, José Antônio e Alaíde.
Seu José Homem foi velado ontem à noite, em sua residência na Travessa Serapião, no Bairro Rosário e foi sepultado na manhã desta quarta-feira, no cemitério do São Bento, na região da comunidade Cajueiro, localidade onde nasceu.
TRIBUTO A SEU ZÉ HOMEM
Por Carlos Alberto Jr. (Carluchim)
“Neném, seu Zé Morreu”. Foi assim que eu recebi da minha mãe uma das notícias mais tristes que o ano de 2018 me trouxe. Para falar de “Seu Zé” ou “Zé Homem” como era mais conhecido, é necessário fazer uma pequena introdução sobre a minha cidade natal, Oeiras-PI.
Oeiras, foi a primeira capital do Piauí. Embora seja uma cidade tricentenária ainda permanece com um certo ar provinciano que resiste ao tempo. É uma cidade aconchegante, sempre que retorno sinto o calor do meu povo a me cumprimentar por onde ando. Praticamente todo mundo se conhece. Em meio a esse sentimento de grande vizinhança, certos indivíduos sempre se destacaram, tornando-se ícones, figuras tarimbadas na cidade.
Quem nunca ouviu falar de Zé de Helena? Um dos primeiros homossexuais assumidos na cidade fortemente conservadora e católica? Ou de Coló a andar sempre acompanhada por dezenas de cachorros em meio às ruas históricas? Ou de Joca o anjo andarilho oeirense? Ou de seu Hermínio, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, conhecido por sua contribuição com os pracinhas brasileiros e por suas coleções exóticas em sua residência. E de “Genesão” sempre afugentando os garotos que o apoquentavam falando de sua donzela: “Ieda é minha”.
Há várias semelhanças entres estas figuras citadas e seu Zé Homem. E hoje essa lista de semelhanças aumenta. Todos estão mortos. Seu Zé Homem também nos deixou.
É certo que Seu Zé Homem tinha um destaque maior no bairro onde residia. O meu amado Bairro Rosário, terra abençoada pela Santa que lhe empresta o nome, bem como pelo glorioso São Benedito, padroeiro dos negros. Bairro conhecido pela sua população negra que ali se refugiou nos primeiros dias da Filha do Sol do Equador.
Seu Zé Homem era mais um desses negros. Homem simples, ex-lavrador, marido da Dona Cipriana, com a qual teve vários filhos. Eu devia ter uns seis anos de idade quando Seu Zé Homem se mudou para minha Rua no Rosário. Meu pai lhe vendeu a porção de terreno onde levantou sua casa.
Quem passava a tardinha pela Travessa Serapião costumava ver seu Zé Homem sentado em sua calçada alta a olhar paras as duas extremidades da rua, dando conta de tudo e de todos. Gostava de passar o tempo jogando dominó e baralho. Lazer este que abandonou devido ao seu temperamento esquentado, não fazia bem para sua frágil saúde passar por tanta emoção quando perdia.
De um senso de humor muito apurado, gostava de fazer brincadeira com todos que tivessem o prazer de tirar um pouco do seu tempo para ter dois dedos de prosa com este contador de histórias. Muitas vezes me deliciei com seus causos, suas histórias da infância, da adolescência. Algumas inclusive impróprias pra a minha idade. Mas seu Zé Homem era isso, esse ser humano rasgado, dado, totalmente aberto. Um típico vizinho de cidades do interior.
Lembro da última vez que o vi quando o visitei mês passado. Já estava internado, mas de uma lucidez assombrosa no alto dos seus 92 (noventa e dois) anos de idade. Apesar do momento delicado pelo qual passava, não perdia a alegria de viver, era o principal consolo dos demais enfermos da ala hospitalar com suas brincadeiras. Pude presenciar uma de suas últimas piadas, a satisfação que teve quando uma enfermeira pegou no seu órgão genital para colocar uma sonda, ouviram-se gargalhadas por todos os corredores.
Hoje, apesar da minha crença na imortalidade da alma, em uma existência além do plano terrestre, dói. Meu peito aperta, as lágrimas escorrem do meu rosto. Cresci acostumado com seu jeito brincalhão, não escapei de alguns de seus xingamentos, quando por exemplo chutei a bola no seu telhado. Mas guardo de Seu Zé Homem as mais doces lembranças e sua principal lição. A vida é bela e vale a pena ser vivida com alegria.
Ele não queria morrer, debilitado, quase cego e mesmo assim lutou para permanecer vivo. Hoje, Seu Zé Homem, você deixa o invólucro da carne e seu espírito retoma a liberdade para o encontro com a Divindade. Hoje, assim como tantos outros ícones da nossa amada Oeiras, o senhor sai da vida terrena para entrar pra história.